Cinco grandes clubes: números ou história?

Análise de Rodrigo Capelo, no canal SporTV, é falha por focar no financeiro e esquecer a história

Por: Bruno Gutierrez  -  04/04/19  -  20:23

O jornalista Rodrigo Capelo tentou criar uma polêmica que não existia (e nem deveria existir). Durante participação no programa "Acabou a brincadeira", do canal SporTV, o profissional cravou que só existem, no máximo, cinco clubes grandes no Brasil, o que ele também considerou "superclubes".


Já o outro jornalista da atração, Carlos Cereto, estava do outro lado da queda de braço, ao dizer que são mais de dez clubes grandes no país.


Capelo considerou apenas Flamengo e o Trio de Ferro (Corinthians, Palmeiras e São Paulo) como os maiores dos maiores. Numa segunda prateleira, apareceram Grêmio, Internacional, Cruzeiro e Atlético-MG, que se revezariam na quinta colocação. Já Santos, Fluminense, Vasco da Gama, Botafogo e Bahia, que completariam o antigo "Clube dos 13", são desconsiderados pelo jornalista.


O problema dessa análise é que ela não conta com um ponto fundamental: a história. Algo que Capelo tentou minimizar ao falar que "existe uma grande carga emocional".


Não é carga emocional, não. É história. Tá escrito e documentado. E isso não se minimiza, não se apaga. Capacidade de investimento para montar um grande elenco não deve ser critério fundamental para avaliar um clube.


Afinal, o Santos montou dois elencos vitoriosos (2002-2004 e 2010-2012) em plena crise financeira. Tudo com joias da casa e algumas apostas. Com elencos desconsiderados pela grande mídia e desacreditados pela torcida, o Alvinegro foi bicampeão brasileiro, tricampeão consecutivo do Campeonato Paulista, campeão da Copa do Brasil e campeão da Copa Libertadores da América.


No mesmo período, o Flamengo, por exemplo, teve um Campeonato Brasileiro e duas Copas do Brasil, além de alguns estaduais de fórmulas malucas, onde o Rio de Janeiro chega a ter três campeões no mesmo ano. O São Paulo não levanta uma taça desde a Copa Sul-Americana de 2012 (em uma final que não terminou). Para piorar, nos últimos anos, não chega nem a brigar por troféus.


O Corinthians, quando foi campeão brasileiro com Fábio Carille, era chamado de "quarta força" no Estado de São Paulo. Estava em crise financeira, ainda encontra dificuldades para pagar pela sua arena. Nenhum desses clubes deixou de ser grande por isso.


Voltando a abordar o caso do Santos, o time foi vice-campeão e terceiro colocado no Brasileirão recentemente, por exemplo. Mesmo sem a condição de contratar "quem quiser" como acontece em Palmeiras e Flamengo.


É preciso respeitar os clubes grandes do Brasil. Todos eles. Quando se joga um clássico, por mais que um clube esteja num período pior que o outro, as coisas se igualam em campo. O Campeonato Brasileiro começa sempre com seis ou sete clubes brigando pelo título e o azarão, volta e meia, surge na tabela.


Uma coisa é o Nottingham Forest, na Inglaterra, bicampeão europeu, mas que desapareceu do protagonismo nacional e internacional. Outra coisa é a gangorra do futebol brasileiro, onde os grandes se alternam, mas vira e mexe surgem no topo do futebol nacional.


E volto a dizer, talvez com uma nova polêmica: ter dinheiro não te transforma em um grande clube, mas a história, sim. Quem admirava o Manchester City antes da grana? O Chelsea? O PSG? Antes do dinheiro, os Citzens registravam as últimas glórias na década de 70. Os Blues somavam 12 títulos em quase 100 anos de história antes de Abramovich. E no clube francês, 20 dos 38 títulos vieram depois dos milhões de Euros do sheik árabe.


Dinheiro, realmente, não é tudo.


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