A notícia de que a Caixa Econômica Federal vai executar a dívida que o Corinthians tem com ela, por causa do estádio em Itaquera, é o capítulo mais recente de um filme cujo final se sabia desde o princípio. Pelas motivações e pelos personagens envolvidos, era evidente que a conta não fecharia e que, assim como a maioria das centenas de obras faraônicas país afora, a única solução possível seria empurrar com a barriga.
A falta de um estádio sempre traumatizou o corintiano mais do que deveria. Afinal, o clube e o próprio torcedor já haviam adotado o Pacaembu como lar. A sintonia entre time e estádio, porém, não bastou, e Andrés Sanchez bateu o pé – legitimamente, diga-se – pela casa própria. Aí começou a fantasia.
Muito vivo, o dirigente, um divisor de águas na história corintiana, aproveitou a realização da Copa do Mundo no Brasil e se aliou a quem tinha o poder para atingir seu objetivo. Ricardo Teixeira, presidente da CBF, e Lula, presidente da República, receberam Andrés de braços abertos. E já que a temporada de caça aos elefantes brancos estava aberta, por que não viabilizar o estádio corintiano?
Contudo, para conferir o verniz de seriedade necessário, não dava para entregar o presente de bandeja. Primeiro foi preciso tirar o Morumbi “tecnicamente” da disputa à sede paulista da Copa. Depois, com a escolha consolidada, foi a vez de Andrés dizer que o clube construiria sua arena de qualquer jeito e que a abertura da Copa em Itaquera virou um fardo, uma vez que o evento demandou mais investimentos e gastos. Até parece...
Não precisa ser muito inteligente para constatar que, sozinho e sem o ensejo da Copa do Mundo, o Corinthians jamais ergueria estádio. Se fosse assim, já o teria feito há muito tempo. Também não dá para empurrar a participação do corintiano Lula para baixo do tapete. Ainda mais depois que Emilio Odebrecht, proprietário da construtora Odebrecht, responsável por várias arenas da Copa, afirmou que a Arena Corinthians foi um presente para Lula. Conforme a Lava Jato e seus desdobramentos mostraram, um presente repleto de segundas intenções, que jogaram o Brasil em um lamaçal do qual ainda não foi possível sair.
Andrés Sanchez sempre bateu no peito para dizer que o estádio não veio de graça e que a dívida será paga. Recorrendo a cálculos e formas engenhosos, ele apresentou a saída até com certa tranquilidade. Entretanto, a cobrança judicial da Caixa e o cenário econômico mostram que, mesmo a longo prazo, a possibilidade de pagamento da dívida é tão verdadeira quanto os naming rights.