Alguém crê em fair play financeiro no Brasil?

Jamais os cartolas vão produzir e praticar leis que coíbam seus abusos

Por: Heitor Ornelas  -  21/02/20  -  20:06
Secretário-geral da CBF, Walter Feldman garante que haverá punição aos clubes caloteiros
Secretário-geral da CBF, Walter Feldman garante que haverá punição aos clubes caloteiros   Foto: Mauro Horita/CBF

A eliminação via tapetão do Manchester City das duas próximas edições da Liga dos Campeões da Europa, por causa de infrações ao fair play financeiro, vai se repetir no Brasil para os clubes que não cumprirem normas de gestão responsável. A afirmação é de Walter Feldman, secretário-geral da CBF. Você acredita?


Eu não acredito. Paternalista, incompetente e mal-intencionada, a cartolagem brasileira jamais vai cortar na própria carne, por mais necessário que isso seja. De braços dados com deputados e senadores em Brasília, dirigentes de clubes, federações e confederação fizeram a decadência financeira e moral do futebol chegar até aonde chegou. Por que acreditar que agora haverá rigidez e seriedade por parte de quem deixou os clubes na pindaíba?


Segundo Walter Feldman, as punições a quem não respeitar limites financeiro serão inicialmente educativas, e só depois resultarão na exclusão de campeonatos. Tem como começar pior? De punição que não pune, já estamos cheios. Além disso, leis para barrar caloteiros já existem, mas, como tantas no Brasil, não pegam. 


Pelo que temos hoje, para que um clube sofra qualquer tipo de sanção por falta de pagamento, como perda de pontos, é preciso que algum jogador faça a denúncia. É evidente que jamais um atleta vai se submeter a esse desgaste e  inviabilizar a sequência da carreira. Ou seja: a lei foi feita para não funcionar.


No Congresso, com apoio do deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara e torcedor do Botafogo, um dos clubes mais endividados, a salvação é o chamado clube-empresa. Com propostas tão boas quanto inverossímeis, exatamente por não atacarem o mal pela raiz, o projeto tem tudo para ser mais um a empurrar dívidas impagáveis com um refinanciamento, sob o manto de uma suposta transformação rumo ao profissionalismo.


A solução para décadas de gestões temerárias tem de ser dura. Não importa se A ou B vão ser rebaixados ou se C ou D não vão ter condições de montar times diante de limitações orçamentárias. Já passou da hora de clubes considerados médios, mas com administrações competentes, passarem à frente daqueles cuja tradição é tudo o que sobrou.


O Manchester City foi punido porque inflou receitas para justificar contratações milionárias. Os salários dos jogadores e o pagamento de impostos não estão atrasados, a questão é que, por competitividade e ética, havia um teto e ele não foi respeitado. Aqui, o buraco é mais embaixo. Não existe limite para gastos, nem fiscalização. Há apenas o vício de replicar erros e simular virtudes.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter