Ainda que dê certo, Daniel Alves já deu errado no São Paulo

Jogador é um gênio, mas as finanças do clube não aguentam mais um rombo

Por: Heitor Ornelas  -  02/08/19  -  20:55
Capitão da seleção brasileira, o lateral foi anunciado pelo Tricolor nesta quinta
Capitão da seleção brasileira, o lateral foi anunciado pelo Tricolor nesta quinta   Foto: Lucas Figueiredo/CBF

A contratação de Daniel Alves pelo São Paulo é tratada como tacada de mestre pela maioria dos analistas e torcedores. Se apenas o aspecto técnico for levado em conta, pode-se considerar no máximo uma meia verdade. Afinal, ainda que estejamos falando de um gênio, do jogador que mais vezes foi campeão na história do futebol, ele tem 36 anos e já não vinha atuando com a costumeira frequência no Paris Saint-Germain. Foi o craque da Copa América, um torneio com seis jogos. É pouco provável que até o final do contrato ofereça aquilo que o time do Morumbi precisa.


Se o benefício esportivo é uma meia verdade, fadado ao início da trajetória, o lado financeiro é um completo deboche. Há cerca de um mês, foi revelado que a diretoria deve salários aos jogadores. Depois disso, os dirigentes ainda acertaram a contratação de Raniel, do Cruzeiro, por R$ 13 milhões, bancados por um empresário que no futuro vai ganhar sabe-se lá quanto pelo galho quebrado. Não bastasse tudo isso, o São Paulo, clube que pior emprega suas receitas no Brasil, vai pagar o maior salário do futebol nacional a Daniel Alves – mais de R$ 1 milhão, segundo fontes extraoficiais.


Quando o jogador vier a ser apresentado, Raí ou algum outro diretor com linguajar rebuscado provavelmente vai dizer que há um plano para bancar Daniel Alves. Um patrocinador, uma estratégia de marketing, venda de camisas, estádio lotado etc. Entretanto, nada disso justifica um investimento desse porte.


O São Paulo é a prova definitiva de como o dirigente brasileiro administra os clubes. Não bastasse contratar a eterna promessa Alexandre Pato a peso de ouro, por três longos anos, dando um passo maior do que a perna, Leco e Raí dobram a aposta com Daniel Alves. Para eles é fácil, estão de passagem – e ainda são remunerados! O problema fica para quem vem depois. Se bem que,  ao que tudo indica, dada a inércia e até o endosso atuais, o sucessor de Leco apoia o que tem acontecido e provavelmente vai em busca de um Pato ou um Daniel Alves para chamar de seu quando chegar ao poder.


A imagem e o discurso são profissionais, mas as ideias e as atitudes são amadoras, ignoram os princípios básicos de receita/despesa. A venda de Antony, Liziero e outras promessas da base é, na verdade, o frágil alicerce da operação megalomaníaca. Não é por acaso que o clube enfrenta longo jejum de títulos, virou freguês em clássicos e não encontra luz no fim do túnel.


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