A luta dos técnicos novatos

O desafio que é se sustentar em um time de ponta sem ter o moral de um medalhão

Por: Alexandre Fernandes  -  21/11/18  -  23:12

A gente escuta com frequência que precisa haver uma renovação de técnicos no futebol brasileiro, que os clubes grandes sempre miram os medalhões... mas não é fácil ser um treinador novato.


A história é sempre a mesma, com algumas variações. Quando o clube não resolve apostar em um técnico com bom trabalho em um clube menor, dá chance a um auxiliar ou treinador das categorias de base.


O Atlético-PR viveu essas duas experiências só neste ano. Em janeiro, contratou Fernando Diniz, que até então só havia trabalhado em clubes pequenos de São Paulo. E sempre chamou mais atenção por seus conceitos de futebol do que pelos resultados que alcançou. Enquanto Diniz preparava o elenco principal para o Brasileirão, Tiago Nunes levava o time sub-23, que comandava desde 2017, ao título estadual.


Quando o torneio nacional começou, Fernando Diniz, logo de cara, apresentou bons resultados, era elogiado por atletas e comentaristas esportivos pela coragem em implantar uma forma de jogar que priorizava a troca de passes e a postura ofensiva.


Pois bem, foi só o Atlético sofrer uma série de resultados negativos para aquele treinador tão festejado ser demitido. É bem verdade que a diretoria resistiu o quanto pôde, mas a pressão foi maior.


Assim, Fernando Diniz não passou pelo primeiro desafio a que um técnico novato é submetido: resistir à primeira crise. Nessas horas, sempre começam os questionamentos se não era melhor um treinador mais experiente para servir de para-raios.


É bem verdade também que a diretoria do Atlético-PR não foi atrás de um medalhão. Talvez porque não houvesse um nome disponível.


E aí, repetindo o procedimento com novatos, o clube promoveu Tiago Nunes.


Com ele, a equipe se recuperou no Brasileirão de forma surpreendente. Afastou qualquer possibilidade de rebaixamento e hoje briga para entrar no G6. E isso simultaneamente à Copa Sul-Americana, na qual o time está muito perto das finais.


Mesmo que não conquiste uma vaga na próxima Libertadores e nem o título da Sul-Americana, o treinador terminará o ano em alta. Mas vai passar pelo segundo grande desafio de um novato, que é se consolidar na temporada seguinte.


Não é fácil. Veja a carreira de Jair Ventura. Em 2016, pegou o Botafogo mais ou menos nas mesmas condições de Tiago Nunes no Atlético-PR e conseguiu classificá-lo para a Libertadores. Mesmo não conquistanto títulos, fez uma temporada de 2017 acima das expectativas, atraindo a atenção de outros clubes, como o Santos.


E justamente quando Jair resolveu alçar voos mais altos, quebrou a cara. Foi demitido do Santos com o time na zona do rebaixamento do Brasileirão e com uma campanha mediana na Libertadores. Sem o status de medalhão, talvez ele tenha pensado na possibilidade de ser esquecido pelo mercado ao aceitar a primeira oferta que recebeu. Assumiu um Corinthians logo após um desmanche e manteve a rotina de tentar escapar do rebaixamento.


Mesmo que salve o time da Série B, Jair Ventura terminará 2018 em baixa. Será que valeu a pena ter engatado um trabalho no outro? Pode até ser que ele continue no Corinthians no ano que vem, mas a tolerância será cada vez menor. Será preciso mais uma vez matar um leão por dia para se livrar do rótulo de novato e subir de nível na prateleira dos técnicos.


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