É preciso conter a euforia com Jorge Jesus

Trabalho do português à frente do Flamengo é bom e tem dado resultados, mas o brasileiro está mal acostumado com o nível técnico do futebol no País

Por: Bruno Gutierrez  -  24/10/19  -  21:35
"Não é dessa forma que o Botafogo vai sair da zona de rebaixamento", disse Jesus   Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

O Flamengo eliminou, e com autoridade, o Grêmio na Copa Libertadores da América. O placar elástico, de 5 a 0, mostra o domínio dos cariocas e o atropelo de Jorge Jesus em cima de Renato Portaluppi. Uma noite que deu tudo certo para um lado e tudo errado para outro.


No entanto, a espetacularização crescente que tem sido feita em cima do técnico português ultrapassa os limites do bom senso. Palmas para o treinador após o término da entrevista coletiva no Maracanã foi a gota d'água.


O trabalho de JJ, como é popularmente chamado, é bom. Não nego. Ele trouxe uma série de "inovações" para o dia a dia do elenco. Os treinos, a metodologia de trabalho. Isso apareceu como uma surpresa. Mas, para quem acompanha o futebol "fora da caixinha chamada Brasil", não tem lá tanta novidade assim.


Jesus apenas empregou o modelo visto em países europeus. A vontade em ter a posse de bola, a ofensividade, a busca constante pelo gol, evitar o toque de lado, a compactação dos setores do time. Tudo isso é "moderno", mas não é novo. Jorge Jesus está longe de ser um Josep Guardiola. Se o fosse, não estaria no Flamengo, mas na elite europeia.


E com o elenco que o "mister" tem nas mãos, ele tem mais do que obrigação de empregar um futebol assim e de ser dominante, seja nas competições domésticas ou continentais. Ele tem um elenco recheado de jogadores com passagens por seleções. Muitos deles experimentados no futebol europeu, com carreira consolidada. Poucos são os "ingênuos" no grupo. 


O problema é que não há um trabalho para se comparar com Jorge Jesus dentro do Brasil. Colocar Jesus e Abel Braga lado a lado é quase covardia. O trabalho do veterano era fraco e parecia não ter o controle do grupo tanto assim. Não tem como mensurar a grandiosidade do feito de Jesus com isso. 


No resto dos clubes brasileiros da série A, quase em sua totalidade, adotam um futebol defensivo, reativo e pragmático. Com as exceções como o Santos (sem elenco forte), Athletico-PR (agradável surpresa) e Bahia (com um sólido trabalho de Roger Machado), o que se vê no futebol brasileiro é mais do mesmo. 


Perguntem ao torcedor do Palmeiras qual foi a grande mudança que Mano Menezes trouxe ao substituir Felipão. Ou no Inter, com a troca de Odair Hellmann por Zé Ricardo. Ou ainda para os corintianos sobre a maneira de Fabio Carille montar elencos. É um formato padronizado, que não gosta da bola, mas que já deu resultado, título, manteve cargo.


A verdade é que a mídia esportiva, e o torcedor brasileiro em geral, está orfão de bom futebol. Então, quando aparece um Jorge (Jesus ou Sampaoli), tende a idolatrar e colocar num pedestal de ouro por um trabalho que deveria ser visto com bons olhos, mas não glorificado. 


Os Jorges trabalham bem, tem bom desempenho, acima do esperado. Mas o brasileiro precisa se "reacostumar" a ver bom futebol. Afinal, passamos muito tempo achando que o 1 a 0, com dois ou três chutes no gol, como regra no Brasil. E o esporte praticado fora daqui, é bem diferente.


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