É hora de mudar o calendário do futebol

Pandemia dá a chance de ajustar o Campeonato Brasileiro ao modelo europeu

Por: Heitor Ornelas  -  08/04/20  -  23:12
Presidente da CBF, Rogério Caboclo prefere deixar o calendário como está, apesar do prejuízo dos clu
Presidente da CBF, Rogério Caboclo prefere deixar o calendário como está, apesar do prejuízo dos clu   Foto: Lucas Figueiredo/CBF

O coronavírus está causando prejuízos incalculáveis. Além das vidas perdidas, a economia já sente os reflexos da doença. No esporte não é diferente, as perdas se somam e criam um cenário de terra arrasada. No entanto, ao menos no futebol brasileiro, a desgraça traz a oportunidade de readequar o calendário.


Em que pesem a dificuldade e as particularidades, chegou a hora de o Brasil seguir o modelo europeu. Pelo menos o Campeonato Brasileiro, que ainda não começou, poderia ser jogado de agosto até maio do ano que vem, por exemplo. Estaduais, Copa do Brasil e as competições internacionais, como a Libertadores, merecem outra discussão, não menos viável de adequação, diga-se. Porém, com tudo parado e com o Nacional ainda por iniciar, é fundamental dar o primeiro passo.


O principal benefício da sincronia com o futebol europeu é a chance de manter os principais jogadores no Brasil. Simultâneo às principais ligas internacionais, o Brasileirão daria aos times condição de se programarem melhor. Em tese, os atletas mais cobiçados sairiam antes do início ou ao término de uma temporada, não mais no meio. E as resposições seriam feitas em cenários mais viáveis.


Do jeito que a coisa funciona hoje, não funciona. Os times já contam com poucos jogadores verdadeiramente bons. Se estes forem embora no meio da disputa, o que sobra? Da mesma forma, vender o jogador hoje e entregá-lo daqui a seis meses já se provou um expediente frágil. Afinal, poucos conseguem manter a concentração. O que é natural. Qualquer um, mesmo os mais experientes e esclarecidos, em qualquer área, fica dividido quando sabe que em pouco tempo estará atuando em outro lugar.


Para que a mudança aconteça, a CBF precisa estar à frente. Entretanto, ao que tudo indica, ela vai deixar tudo como está. Alguma readequação será feita, mas em função da paralisação forçada pelo coronavírus, e não pelo entendimento de que o futebol teria a ganhar ao se ajustar aos principais centros. Nem mesmo o exemplo da Argentina, que há muito tempo monta seu calendário à moda europeia, serve - não por acaso, o futebol argentino é superior ao nosso nos dias de hoje. O Campeonato Argentino oferece ao torcedor jogos mais interessantes, com times intensos e bem treinados. E na Libertadores, via de regra os hermanos levam vantagem nos confrontos diretos com os brasileiros.


O movimento de transformação teria de partir da CBF, mas, em seguida, seria necessária a adesão em grande escala por parte dos clubes. Principais beneficiados com a permanência dos jogadores de destaque e com a chance de melhor planejarem-se, eles deveriam ser os maiores interessados. Contudo, será uma grande surpresa se qualquer gesto nesse sentido vier a acontecer. Já é tradição da cartolagem seguir as determinações da CBF - que, por sua vez, diz fazer eco aos anseios dos clubes. Parece o cachorro correndo atrás do próprio rabo.


E assim caminha a humanidade. De chance perdida em chance perdida, a luz no fim do túnel nunca aparece.


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