O descaso que a chuva trouxe à tona

A quantidade desproporcional de água expôs a insignificância do ser humano frente à força da natureza, expondo problemas crônicos de nossa sociedade

Por: Paulo Corrêa Jr  -  13/02/20  -  09:00
Atualizado em 13/02/20 - 09:26
Ruas foram tomadas pelas águas após o temporal da última segunda-feira
Ruas foram tomadas pelas águas após o temporal da última segunda-feira   Foto: Solange Freitas/TV Tribuna

A madrugada da última segunda-feira (10) foi marcada por um volume de chuva acima do normal, trazendo muita apreensão pelos incontáveis registros de inundação e destruição. Imagens de famílias desabrigadas que perderam tudo em questão de minutos ficaram ainda mais tristes com o registro da perda de quatro vidas no Estado de São Paulo.


Assim, algumas mais, outras menos, todas as cidades da Baixada Santista foram duramente castigadas.


A quantidade desproporcional de água expôs a insignificância do ser humano frente à força da natureza, expondo problemas crônicos de nossa sociedade, como a fragilidade das pessoas que moram em construções irregulares nas periferias e áreas de invasão.


Com um déficit habitacional acima de 100 mil moradias, a Baixada Santista registrou um grande número de famílias desabrigadas por terem seus lares construídos em locais sem infraestrutura, esgoto, drenagem e escoamento. Muitos perderam o pouco do que tinham e terão uma árdua tarefa para reconstruírem suas vidas.


A água que caiu e alagou, trouxe à tona muitas dúvidas e algumas certezas como, por exemplo, a ineficiência de órgãos como a AGEM () e o CONDESB (*) que reúne os nove prefeitos de nossa região na busca por soluções dos problemas metropolitanos. Há anos falo sobre a ineficiência de ambos e questiono suas atuações. E isso, tende a piorar muito porque, no caso do CONDESB, às vésperas determinar a atual gestão, nenhum prefeito quer assumir a presidência, receando ter que dispor de tempo em um momento em que estarão focados na busca por votos num ano de eleições municipais. Pasmem, às vésperas da data final de inscrição, não existe sequer um candidato para assumir o órgão.


Com o CONDESB ou não, é preciso que Estado e municípios insiram em seus planos de governo o esforço e um estudo sério com soluções efetivas - a médio e longo prazo – para que sejam criadas oportunidades às famílias de pessoas de baixa renda para que possam viver dignamente, construindo algo sem o medo de perder tudo da noite para o dia. Algo que proporcione um ambiente saudável, com higiene, luz e esgoto. É o mínimo que se espera do poder executivo.


Teremos muitos outros verões e como ele, a chuva. Isso não vai mudar. Se já sabemos, não podemos ficar esperando que a catástrofe se repita.


(*) AGEM - Agencia Metropolitana da Baixada Santista 
(**) CONDESB – Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Baixada Santista


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