Muitos 'Gersons' ainda convivem entre nós

Campeão da Copa do Mundo de 70 dizia que gostava de “levar vantagem em tudo”. Isso virou um castigo para o ex-atleta, tendo em vista que o conceito de gostar de “mamatas”

Por: Paulo Corrêa Jr  -  23/07/20  -  11:49
Gerson ficou marcado por frase de
Gerson ficou marcado por frase de "querer levar vantagem em tudo"   Foto: Reprodução/Youtube

Na década de 70, um comercial de cigarros teve como garoto propaganda um ídolo do futebol brasileiro: Gerson, o canhotinha de ouro. Na campanha, o ex-atleta dizia que gostava de “levar vantagem em tudo”. Isso virou um castigo para o ex-atleta, tendo em vista que o conceito de gostar de “mamatas”, grudou em sua imagem. Passados meio século, muita gente ainda usa o termo “lei de Gerson” quando alguém tenta se sair bem numa negociação, disputa de uma partida de futebol ou em coisas do cotidiano.


Mas isso é ruim demais para todos nós. Não cabe mais aceitarmos essa condição de que somos um povo que não gosta de trabalhar e quer viver de vantagens pelo resto da vida. Há anos tentamos nos livrar dessa imagem pejorativa para o Brasil e sua população.


Porém, com todo esse esforço, ainda temos grupos de pessoas que acreditam que ter benefício lesando alguém é uma coisa aceitável, ignorando conceitos básicos de ética e cidadania. E isso, em todas as esferas, independente da educação ou nível social que ocupe. Nas últimas semanas, uma lista de nomes envolvidos em fraudes nos saques do auxílio emergencial explodiu em nossa região. São filhos de famílias de classe média, esposas de empresários e servidores públicos aposentados e dependentes que omitiram a renda familiar no cadastro feito na Caixa Econômica Federal para que pudessem receber o auxílio emergencial de R$ 600 — destinado a trabalhadores informais e autônomos de baixa renda.


São pessoas que ignoraram uma condição caótica gerada pela pandemia, que tirou o sustento de milhões de pessoas por desemprego ou proibição da prática de uma atividade comercial. Muitos desses envolvidos na fraude já berraram contra a corrupção – como todos devem fazer – mas ignoraram preceitos básicos de educação cívica, causando prejuízo para a União e consequentemente, atrapalhando um programa de resgate aos mais necessitados.


Agora, descoberta a fraude, vemos alguns fazendo a devolução dos valores – muitas vezes pagas pelos pais ou responsáveis – sob pena de responderem a um processo criminal, colocando em cheque a veracidade de sua #corupçãonão expondo uma nova geração de “Gersons” que acredita na famosa frase de  Barão de Itararé que dizia “Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados”.


Temos que mudar isso. Se não é bom para todos, não pode ser bom para alguns.


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