Mitigar, abrandar, até quando o meio ambiente aguentar

Enquanto os olhos se voltam para a Amazônia, o que estamos fazendo em nosso quintal?

Por: Paulo Corrêa Jr  -  05/09/19  -  11:13
Os dados fazem parte de levantamento do TCE-SP relativo ao 3º bimestre de 2019
Os dados fazem parte de levantamento do TCE-SP relativo ao 3º bimestre de 2019   Foto: Reprodução

Hoje é o Dia da Amazônia, e não temos nada a comemorar, até porque nossa atual realidade é ser destaque na imprensa mundial devido aos incêndios. Além do mais, os problemas de meio ambiente também assolam a Baixada Santista, e voltamos a ser palco de degradações ambientais. Uma vez mais o suprimento de gás vem silenciosamente trazer mais agressões ao nosso meio ambiente. Será que não aprenderemos que o nosso desenvolvimento desenfreado e a pouca consciência e educação ambiental estão levando o nosso planeta à exaustão?


Me explico. Em junho deste ano, tive acesso a um parecer técnico da Cetesb que trata de uma solicitação de licença ambiental prévia para a implantação de reforço estrutural de suprimento de gás em nossa região.


Já fomos assombrados por este tema há anos, quando na cidade de Peruíbe havia a possibilidade da instalação de uma termoelétrica. Desta vez, o foco não é a geração de energia por meio de gás, e sim o fornecimento de gás natural nas cidades de Santos e Cubatão.


Como seria isso? Ali nas proximidades do Largo do Canéu, próximo à Ilha dos Bagres, seria alocado um navio que estaria permanentemente atracado, e dutos seriam construídos para ligar ao ponto de entrega, chamado de City Gate.


Sabe onde é isso? Lembra da cava subaquática? Aquela que já cessou? Pois é, em frente a ela. Quando discutimos a cava, nos foi explicado que era o único meio de contenção do material dragado do Canal de Piaçaguera. A cava, vulgarmente explicando, “já lotou”, e para termos esse navio, serão realizadas novas dragagens ainda mais profundas, o que significa que o material é ainda mais contaminado.


Para onde irão esses dejetos? Nos foi respondido que esse material será despachado em alto mar. Então, sigo questionando: Por que, na época, autorizou-se a fazer a cava para colocar estes dejetos altamente poluídos, e nesse momento a solução pela mesma Cetesb é outra?


Nos esclarecimentos recebidos, me chamou a atenção que a todo o momento fala-se de programas de mitigação ambiental. Mitigação significa tornar mais brando, mais suave, porém, haverá danos à região. Em resumo, estamos legitimando algo que sabemos que trará consequências?


Pois é, enquanto seguirmos mitigando o meio ambiente, a atividade pesqueira será prejudicada, legalizaremos a poluição e ignoraremos os riscos ambientais.


Ah, mas em contrapartida, a empresa faria parceria com as prefeituras para a construção de escolas e demais equipamentos públicos. Assim sendo, uma vez mais o poder público transfere sua responsabilidade, ignora não só o meio ambiente como a cultura ribeirinha. Temos um problema socioambiental e temos que balancear.  Até que ponto o dano ambiental é permitido para o empreendimento de gás? Estamos priorizando o gás e mitigando a ecologia.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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