E se Cristovão Colombo não tivesse descoberto o novo mundo?

12 de outubro o dia em que a comunidade espanhola discretamente celebra com orgulho suas tradições e origens

Por: Paulo Corrêa Jr  -  10/10/19  -  11:25
Que neste 12 de outubro esses espanhóis enalteçam ainda mais o orgulho que tem de ser espanhóis
Que neste 12 de outubro esses espanhóis enalteçam ainda mais o orgulho que tem de ser espanhóis   Foto: Rotiv Artic/Unsplash

Um dos primeiros projetos de lei que apresentei na Assembleia Legislativa foi a comemoração do Dia do Reino da Espanha, no dia 12 de outubro, que prontamente foi sancionada pelo então governador Geraldo Alckmin e virou a lei 16.146 de 2016.


Sou descendente de espanhóis, e com a maturidade passei a buscar minhas raízes, conviver e admirar mais essa população. 


É notório que temos pouca divulgação sobre eles e, com essa percepção, constatei que era uma das poucas colônias que nunca eram homenageadas. Essa foi uma forma de reparar um equívoco histórico, afinal eles não só descobriram a América, como tem enorme participação na formação de nosso Brasil.


Apesar de sermos o único país na América do Sul que não fala o espanhol, o Estado de São Paulo tem segunda maior colônia de imigrantes espanhóis no mundo, quase 75 mil, atrás apenas de Buenos Aires, no total pelo mundo eles já são mais de dois milhões e cem mil.


A porta de entrada para a imigração foi nosso porto, muitos se estabeleceram por Santos e eles estão presentes em inúmeros comércios e restaurantes de nossa cidade. Como destaque, temos a presença do clube no coração da cidade: o Centro Espanhol de Santos, que fica localizado na nobre região da Ana Costa.


O Centro, em contramão da maioria dos clubes da cidade que fecharam ou se readaptaram, se mantém e detém caixa positivo. Entre as atividades estão os dois salões onde, além de locar, realizam suas festas sempre com muita fartura de comida, dança, música e alegria.


Ainda dentro da entidade eles guardam uma das bibliotecas mais ricas de nossa cidade, ali estão verdadeiras relíquias, livros centenários que guardam a historia não só destes imigrantes, como de nosso município, estado e país.


Ademais têm aulas de dança, música, canto, idioma, um salão de jogos, academia, aulas de tênis de mesa, pilates, um restaurante pequeno e aconchegante que serve paella, cozido e feijoada.


Ali pertinho, na Rua Cunha Moreira, eles “escondem” uma instituição fisicamente menor, mas com um charme particular, até porque ali desenvolvem um trabalho social de encher os olhos de lágrimas e o coração de amor.


Essa instituição é a Rosalia de Castro, que realiza um trabalho de caridade em prol a comunidade espanhola da Baixada Santista. Mais que ajudar financeiramente muitos espanhóis idosos, eles dão amor, atenção, tempo e carinho. Sim, além de manter a tradição viva, eles sozinhos lutam para que nenhum espanhol passe por necessidades.


Também temos o glorioso Jabaquara Atlético Clube que, por causa do futebol, é o que mais reconhecido.


Paralelamente eles se organizam politicamente, vivenciei isso no trabalho que voluntariamente fazem em pedir os votos para Espanha.


E nas eleições do CRE – Conselho de Residentes Espanhóis, que são conselheiros eleitos por voto destes imigrantes, os eleitos desenvolvem um trabalho de interlocução entre a comunidade e o governo espanhol, além de órgão consultivo das oficinas consulares. Isso tudo de forma voluntária.


Além do aspecto de doar trabalho, o que me surpreendeu foi saber que historicamente a Baixada Santista sempre elege a maioria dos conselheiros, hoje dos onze membros seis são daqui, ganhando de metrópoles como São Paulo.


Aliás, me espantei positivamente quando descobri que dois santistas são conselheiros eleitos para representar o BRASIL na Espanha. São 54 conselheiros representantes da imigração no mundo e três deles brasileiros.


Nessa convivência às vezes penso que eles vivem num mundo paralelo, diferente do mundo em que vivemos, onde tudo é divulgado. Enquanto eles ficam ali trabalhando, executando, rindo, chorando, cantando, dançando e cuidando uns dos outros. Confesso que até hoje, passado alguns anos de convívio, ainda olho e não sei se estão brincando ou brigando, mas aprendi que com eles tudo é intenso.


Ô povo que trabalha! Como são desconfiados, por isso até talvez eles fiquem nesse mundo mais introspectivo. Vão sempre querer saber qual é seu real objetivo, mas depois que a confiança é conquistada tudo será exagerado, o abraço, a risada, os tapinhas carinhosos e o acolhimento. Quer um último conselho? Nunca recuse comida, pelo contrário se prepare pra comer muito!


Que neste 12 de outubro além de relembrarmos o descobrimento do Novo Mundo, esses espanhóis enalteçam ainda mais o orgulho que tem de ser espanhóis.


Aproveitando, nessa sexta dia 11 acontecerá as festividades começam com o hasteamento das bandeiras e execução dos hinos nacionais do Brasil e da Espanha, às 17h30, no Monumento do V Centenário do Descobrimento da América, na praia do José Menino. No local também haverá a apresentação do Grupo das Danças Típicas Espanholas “Caminos de España”.


Na sequência, às 19h30, ocorrerá a sessão solene da Câmara Municipal de Santos em homenagem a data, com a entrega dos troféus Dom Quixote, no Centro Espanhol, localizado na Avenida Ana Costa, nº 286, no bairro Campo Grande.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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