O cobertor está curto demais!

Porto x Cidade já estamos tratando e o mercado já entendeu. Precisamos começar a tratar o Porto x Indústria em nosso País

Por: Maxwell Rodrigues  -  20/01/21  -  11:41
Atualizado em 13/05/22 - 09:41
Operação visa combater desvio de cargas na região.
Operação visa combater desvio de cargas na região.   Foto: Carlos Nogueira

A covid-19 mudou muita coisa em nossas vidas, mas é fato afirmar que, muito antes dela aparecer, muitos sintomas já eram sentidos na economia nacional. Um dos principais sintomas era a alta do dólar, que permanece devido ao câmbio flutuante. Isso impacta diretamente na vida das pessoas e nas operações portuárias do Brasil.


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Outro sintoma evidente: devido à alta do dólar, exportam-se quase 100% da safra brasileira. Quando exportamos um produto, o produtor recebe em dólar e, na hora que ele transforma em real, fatura muito mais. Se o dólar está alto, é evidente que isso iria ocorrer.


A taxa de câmbio valorizada estimula a exportação de todos os produtos, gerando um impacto muito grande no volume ofertado no mercado interno. A redução da oferta interna faz com que os produtos cheguem mais caros para as famílias.


Ficou claro que os recordes de movimentação nos portos estavam atrelados diretamente à exportação, o que, vamos combinar, contribuiu vertiginosamente para isso. Mas o reflexo foi a inflação do mercado interno, pela escassez da oferta. É claro que adoramos a cultura inflacionária e muitos produtos aumentaram por aumentar, oportunismo mesmo!


Outro fato evidente foi a capacidade dos terminais e portos operarem tantas cargas durante 2020. E isso está vinculado diretamente ao volume de investimentos realizados no tocante à tecnologia e eficiência operacional. Muitos dos investimentos realizados foram através do Reporto (Regime Tributário para Incentivo à Modernização e à Ampliação da Estrutura Portuária), onde os terminais utilizaram o benefício do regime tributário para adquirir tecnologia.


Ao longo do ultimo “quarter-Q4” (último trimestre) de 2020, muitas empresas já finalizavam seu budget (orçamento) de 2021 com base no reporto para investimentos em tecnologia, maquinário e operação.
Para grande surpresa do mercado, o regime não teve ainda aprovação pelo governo federal e sua continuidade já afeta os planos de investimentos.


Vejamos, se os impostos são para proteger a indústria interna e o reporto abre uma janela para importar principalmente produtos que nossa indústria não fabrica ou produz, por que tamanha demora para tal aprovação? Certo é que a indefinição gera grande instabilidade nos investimentos em 2021.


Ainda assim, se visamos proteger a indústria nacional, com a alta carga tributária atual, não estamos observando nenhum incentivo para a criação ou desenvolvimento dessa indústria. Ao invés de exportarmos boa parte de nossa produção, poderíamos impulsionar a indústria nacional e gerar valor agregado aos nossos commodities e posteriormente exportar para o mundo. Produtos mais acabados, com preços melhores, faturando mais e arrecadando impostos pela quantidade a mais exportada. Assim teríamos mais empregos, demanda para atender o mercado interno e maior presença mundial.


De que adianta plantar tanta soja, exportar tudo e o mercado interno importar óleo de soja acabado a altos preços? Já estamos debatendo porto x cidade há quase uma década, mas é chegada a hora de se debater porto x indústria.


O avanço tecnológico diminui alguns postos de trabalho e abre outros em áreas muito mais nobres, mas precisamos alimentar o mundo e também desenvolver a indústria nacional. Sem isso, certamente o poder de compra e as questões inflacionárias dificilmente serão controlados. Nosso cobertor é curto, quando impulsionamos um lado falta cobertor de outro. O correto é aumentar o tamanho do cobertor! Porto x Cidade já estamos tratando e o mercado já entendeu. Precisamos começar a tratar o Porto x Indústria em nosso País!


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