Sem dúvida, impõe-se reconhecer os méritos da seleção brasileira na conquista da Copa América, nesse domingo, contra o Peru. É óbvio que nosso adversário da final tem um nível inferior tecnicamente, mas é inegável, também, que, ao longo da competição, nosso time nacional apresentou vários pontos positivos.
Se decepcionou contra Venezuela e até Paraguai, pelo menos venceu a Argentina, tradicional rival. Nesse confronto, não faltaram polêmicas, desde as condições do gramado até a utilização (ou não) do VAR, árbitro de vídeo que veio como grande solução e jogo a jogo provocou críticas, reclamações e até dúvidas sobre sua real importância para o futebol.
O VAR alterou até a emoção do gol. Ainda que o torcedor comemore de pronto, é preciso esperar a confirmação, se o lance possibilitar questionamentos. Na prática, nos casos de revisão, a partir da decisão do árbitro, repete-se a comemoração e o grito de gol.
Se o gol é anulado, a festa se transforma em protestos e ofensas nas arquibancadas, e até no campo, entre os jogadores. Talvez, seja fruto da sua recente introdução no futebol, quem sabe com o tempo a utilização se aperfeiçoará e conquistará credibilidade, como no tênis, no vôlei e no basquete americano, dentre outros.
Ignorar a tecnologia é negar a evolução da própria vida.
Messi, a estrela maior da Copa América, protestou como nunca, principalmente após o jogo contra o Brasil. Além disso – e aí criticou com muita propriedade –, detonou o péssimo estado dos gramados, sem exceção. Uma falha absurda de organização, comprometendo a imagem do Brasil e da Conmebol, organizadores do torneio.
Sobre o Brasil, especificamente, da confusão e corte de Neymar até a vitória final, vale registrar alguns pontos positivos. Sem o craque do PSG, o ambiente desanuviou e prevaleceu o espírito coletivo, sem estrelismo e fatos extracampo. A ponto de alguns questionarem até as futuras convocações do maior jogador brasileiro. O problema não é técnico, passa principalmente por seu comportamento individualista no grupo, no convívio diário, e durante as partidas. Sem contar os privilégios.
Sem ele, por exemplo, o Brasil foi muito mais coletivo em campo, proporcionando até a oportunidade de confirmação de jogadores como Éverton, o ressurgimento de Gabriel Jesus e até do zagueiro Thiago Silva.
O maior destaque, contudo, foi Daniel Alves. Foi um líder inconteste e comprovou que, mesmo aos 36 anos, é um dos melhores laterais do mundo. Que a vida permita tê-lo na próxima Copa do Mundo, em 2022, assim como William, chamado para o lugar de Neymar, que correspondeu plenamente quando escalado.
Enfim, na sua exata dimensão, na medida em que a competição só envolveu as seleções do Cone Sul, além dos fracos convidados Japão e Qatar, a conquista merece reconhecimento.
Tal feito, porém, tem que ser refletido com maior profundidade, pelos sinais que emitiu. Até mesmo envolvendo a participação de políticos, para evitar desconfortos como os protagonizados por Tite e pelo zagueiro Marquinhos, que, de forma ostensiva, se recusaram a cumprimentar o presidente Jair Bolsonaro.