Sexo na melhor idade: Mergulhar e buscar

A não sexualidade do idoso (a) é uma construção social, pois no que diz respeito ao corpo, já aceitamos a possibilidade de não deixar a máquina envelhecer

Por: Marcia Atik  -  08/12/20  -  22:21
Atualizado em 07/06/21 - 15:19
 A não sexualidade do idoso (a) é uma construção social, diz psicóloga
A não sexualidade do idoso (a) é uma construção social, diz psicóloga   Foto: Divulgação

O termo terceira idade tem embutida a ideia de que a primeira idade é o tempo de brincar, estudar; a segunda seria o tempo de construir a família, produzir, e a terceira seria o tempo de usufruir, colher os frutos já plantados. Seria o ideal se diversos conceitos não fossem arraigados e desviassem esse movimento de seu curso natural. Portanto, a própria dinâmica social e os referenciais ideológicos da terceira idade merecem uma revisão.


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Com crianças e jovens fala-se de educação sexual, gravidez, camisinha, orgasmo. Com o velho, de doenças, heranças e planos de saúde. São poucas - raras mesmo - as pessoas de mais experiência que conseguem perceber seus desejos, abrindo-se para a vida, dar e receber, transar e gozar.


O problema é que quem sabe disso, fala pouco, porque a sociedade e os que convivem com os idosos, ou seja, a família, os cuidadores - quando for o caso - não dão o espaço para isso, negam essa possibilidade de expressão sexual, reprimindo toda e qualquer manifestação de prazer e desejo.


A não sexualidade do idoso (a) é uma construção social, pois no que diz respeito ao corpo, já aceitamos a possibilidade de não deixar a máquina envelhecer: pílulas para todos os fins, para a memória, para o sono, para a força, para os orgasmos, ostras, ovos, amendoim, vitaminas... A química resolve tudo, mas não compreendendo nada.


A orientação puramente biológica nos aponta o déficit puramente emocional, nos abre novas perspectivas, mas para conhecermos a condição humana não bastam tais conceitos, é necessário integrar a experiência humana em seus três níveis de desenvolvimento: Biológico, psicológico e social.


Isso tudo é muito lógico, fica claro, mas esbarramos num aspecto quase incontornável: A nossa sociedade não reconhece a sexualidade como parte de uma experiência de ascensão, crescimento e evolução.


Só há um caminho de cura, que é através da informação adequada e sem preconceitos, da palavra amorosa e do toque amoroso, da verdade, e a verdade sobre sexo na maturidade é alegria, beleza, toque, liberdade, do jeito que cada um eleger como o mais prazeroso. Longe, muito longe do padrão de avaliação de sexo bom que use como parâmetro a performance, quantidade, e conceitos de estética idealizados até para os mais jovens.


Importante saber que em qualquer idade o desejo e instinto sexual existe e tem potência, o que muda é a maneira de expressar. Tudo fica mais dificil se usarmos como padrão o sexo que se fazia aos 20, 30 anos.


Pois é na experiência do amor que se chega ao sublime, e é através do sexo amoroso que um indivíduo se vincula ao outro numa relação de troca em qualquer idade. Acho até que com a idade mais madura, quando não se privilegia mais a agressividade, o imediatismo, mas deve-se valorizar mais o processo criativo, a sabedoria, serenidade, bom humor, enfim, quando deixa-se corpo e alma integrarem-se sem preocupações, o encontro todo pode se tornar uma grande carícia, no corpo, na alma e na psiché.


O homem e a mulher maduros pensam o sexo com o coração, e fazem sexo com o corpo todo.


Se trazemos na educação preconceitos diante da sexualidade, do feminino e do masculino, trazemos também no plano mais profundo de nossa psiché, as possibilidades de plenitude, de encontro e de engrandecimento humano, querendo ser resgatados entre o feminino e o masculino em todas as idades.


Há um provérbio oriental que diz: “Se mergulhares e não encontrar pérolas no mar, não pense que elas não existem, continue a mergulhar e procurar”.Sexo na terceira idade? Mergulhar e buscar...


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