Questão de vida ou morte

Um dos principais problemas relacionados à Covid-19 é a falta de respiradores hospitalares frente à demanda originada na maior parte dos países

Por: Kenny Mendes  -  08/05/20  -  11:36
Cerca de 1.5 mil pacientes se recuperaram da doença no estado de São Paulo
Cerca de 1.5 mil pacientes se recuperaram da doença no estado de São Paulo   Foto: Drager/Divulgação

A pandemia do novo coronavírus em solo brasileiro trouxe à luz a bravura, competência e dedicação dos nossos profissionais de saúde. Por outro lado, expôs, também, as dificuldades práticas que eles enfrentam no dia a dia para fazer aquilo que melhor sabem: salvar vidas.


Um dos principais problemas relacionados à Covid-19 é a falta de respiradores hospitalares frente à demanda originada na maior parte dos países. No Brasil, o fator foi agravado. Desde que cheguei à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no início de 2019, não foram poucos os casos com que me deparei de pedidos negados de internação em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) – exatamente pela ausência do equipamento à disposição nos leitos.


O advento do coronavírus deixa claro que, quando a atual batalha terminar, a saúde no Brasil não pode continuar no mesmo patamar em que se encontrava no início da endemia. Temos que dar um passo à frente. Os aplausos são importantes, mas nossas equipes médicas precisam ser valorizadas de fato, em especial as que atendem o SUS (Sistema único de Saúde). Salário mais justo, carga horária adequada e atualização permanente são direitos, não benesses.


Da mesma forma, a estrutura hospitalar no país – notadamente a da rede pública – precisa de reformulação. Investimentos contínuos são urgentes, não apenas em período de exceção. Apresentei um projeto de lei na Alesp que tem como objetivo nos prepararmos para o futuro. Trata-se da proposta de criação do curso técnico de Reparo e Manutenção de Equipamentos Biomédicos nas unidades das Etecs (Escolas Técnicas) em São Paulo.


Conforme dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) divulgados na semana passada, dos 65.411 ventiladores mecânicos dos hospitais públicos e privados do país, 3.639 (ou 5,6% do total) estão fora de uso por necessidade de reparos. É um número muito significativo: um único aparelho desses pode significar a esperança de vida para vários pacientes.


O curso, inédito, é voltado para a formação de técnicos – portanto, requisita do aluno o nível médio. Com a Covid-19, os respiradores ganharam evidência – todos os que foram adquiridos agora pelos governos, no futuro, precisarão de manutenção. Mas é preciso lembrar que uma UTI possui outros aparelhos, como monitor cardíaco, oxímetro e capnógrafo, só para citar alguns. Há um campo promissor para os alunos atuarem junto a hospitais, clínicas e unidades de tratamento, sejam públicos ou privados.


O projeto estabelece, ainda, que as aulas práticas dos estudantes sejam realizadas com equipamentos que necessitem de reparos enviados por unidades de saúde municipais ou estaduais. Isso representaria uma economia substancial para as secretarias de saúde – não é segredo para ninguém que, em muitos casos, as pastas deixam máquinas fora da rede de atendimento devido à falta de verba para consertá-las.


As consequências da Covid-19 serão impactantes. Enquanto escrevo este texto, já são 129 mil casos confirmados e 8.609 mortes em território brasileiro. Que o poder público enxergue nisso tudo uma lição, um divisor de águas no que se refere à saúde. Para uma realidade melhor.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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