Parados no tempo

Relatório do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes divulgado nesta semana revela que, na última década, o Brasil ficou estagnado

Por: Kenny Mendes  -  06/12/19  -  09:00
Habilidades estão muito mais relacionadas ao comportamento e à administração das próprias emoções
Habilidades estão muito mais relacionadas ao comportamento e à administração das próprias emoções   Foto: PAULO LIEBERT/ESTADÃO CONTEÚDO

O relatório do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) divulgado nesta semana revela que, na última década, o Brasil ficou estagnado: despontou nas últimas colocações nas três áreas avaliadas em 2018 entre estudantes de 79 países - Matemática (70ª posição), Ciência (66ª) e Leitura (57ª). Os dados, obtidos entre alunos de 15 anos, mostram que nosso patamar atual é o mesmo de 2009. Em outras palavras, não demos nenhum passo à frente.

O resultado me preocupa não apenas como educador, mas como cidadão. Um país não avança se não possibilitar a suas crianças e jovens uma boa educação, que é a base de toda atividade. Que o digam China e Cingapura, hoje no topo da lista. Um dado importante: conforme o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC) que aplica o Pisa no Brasil, 68,3% dos estudantes avaliados eram da rede estadual de ensino. O sinal amarelo está ligado.

Os governos precisam entender que a destinação de recursos para o ensino não é gasto, mas investimento. Portanto, a valorização dos professores e demais profissionais do setor é uma obrigação. Na Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), da qual faço parte, temos trabalhado para auxiliar, mas, ao mesmo tempo, cobrar o Executivo por melhoras na educação paulista. Se é o MEC quem dita as diretrizes nacionais, cabe-nos tentar aperfeiçoá-las por aqui.

Ao longo desse primeiro ano de mandato, visitei uma série de escolas estaduais para conhecer de perto sua realidade. Com algumas exceções, a maioria apresenta sérios problemas. E, nesse caso, não me refiro a pedagógicos, mas estruturais. Se o Estado não prover ao aluno as mínimas condições no local onde ele vai estudar, não há educador que faça milagres. Exagero? De acordo com o Pisa, se fosse contabilizado apenas o desempenho das escolas particulares, o Brasil apareceria na 5ª posição do ranking mundial de Leitura. Já o resultado isolado das unidades públicas o colocaria na 65ª.

Enquanto representante da região, apresentei 193 emendas ao Orçamento Estadual de 2020 para beneficiar cada escola estadual da Baixada Santista e do Litoral Norte com R$ 100 mil. À parte, indiquei R$ 50 milhões para a climatização de todas essas unidades.


Por fim, também protocolei à Peça Orçamentária um pedido de remanejamento de R$ 20 milhões da Administração Geral do Estado para a Secretaria de Desenvolvimento Regional: o objetivo é destinar o montante para as prefeituras de Santos, Cubatão, São Vicente e Guarujá — R$ 5 milhões para cada - aplicarem em obras e na manutenção de suas unidades municipais. A votação do projeto (e suas emendas) deve ocorrer nos próximos dias.

O futuro que desejamos não acontecerá sem planejamento. É urgente repensarmos o ensino no país. Uma boa qualificação e remuneração justa dos professores é um bom começo. Investimentos na rede pública também, para que o fosso hoje existente na comparação com a privada diminua. Sem isso, dificilmente subiremos degraus daqui a dez anos.


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