O show tem que continuar

Esses dias de isolamento social têm demonstrado a importância da produção cultural em nossas vidas

Por: Kenny Mendes  -  05/06/20  -  11:25
Mesmo em isolamento domiciliar, Kenny disse que vai participar das votações da Alesp
Mesmo em isolamento domiciliar, Kenny disse que vai participar das votações da Alesp   Foto: Divulgação/Alesp

Qual sua música favorita no momento? Que personagem de novela você nunca esqueceu? Qual livro levaria para uma ilha deserta? Se lembra a última exposição que visitou? Se pudesse ir ao teatro hoje, escolheria um drama ou comédia? Que filme te marcou para sempre? Algum comediante te faz rir mais do que outros? Já assistiu a todos os episódios de uma série?


É muito provável que você consiga responder todas, parte ou ao menos alguma das perguntas acima. Simplesmente porque a arte é como uma necessidade vital para o ser humano e muitas vezes nem nos damos conta disso. Como bem disse o poeta Ferreira Gullar (1930-2016), “a arte existe porque a vida não basta”.


Infelizmente, como em muitas outras áreas, a polarização que tanto prejudica o Brasil também passou a atingir a cultura. Cada indivíduo é livre para manter suas convicções pessoais – e que bom que a democracia nos garante esse direito. Mas cogitar negar a arte em si por conta de orientação ideológica é, no mínimo, insólito. A arte é universal. Não faz distinção. Não tem dono nem pode ser cercada com barreiras.


Esses dias de isolamento social têm demonstrado a importância da produção cultural em nossas vidas. Você imaginaria atravessar a pandemia sem ouvir música, ver filmes, assistir séries ou ler um livro? Ouso dizer que a arte vem nos ajudando a manter saúde mental no período.


Ainda que sejam os mais atingidos no atual momento, os artistas levam adiante sua profissão de fé: sem teatros, casas de show, centros culturais, cinemas ou ateliês abertos, criam formas de permanecer em atividade. Cito as lives como exemplo de resistência: apresentações que desde duplas sertanejas de sucesso nacional até violeiros que honram a tradição caipira, cada um à sua maneira, adotaram para não ficar parados. Nossos aplausos à categoria.


Acho que o Poder Público tem o dever, sim, de fomentar o acesso à arte. Apresentei um projeto de lei na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) que pretende criar Ecopontos Culturais nos municípios, espaços públicos que disponibilizem livros, discos, publicações e mídias diversas, com a finalidade de integrar a comunidade em torno da produção cultural.


Temos um exemplo semelhante já exitoso em Santos, que propus ainda nos meus tempos de vereador: a Biblioteca Móvel. Nos meus dois mandatos na Câmara Municipal, sempre fiz questão de destinar emendas parlamentares para implementar o setor. Festival Geek, Instituto Histórico e Geográfico de Santos, Santos Jazz Festival, Santos Film Fest, Vila do Teatro, Parquinho Tecnológico de Santos (oficinas de tecnologia) e Festival MAIS (Música Autoral e Independente Santista), entre outros, foram alguns dos projetos e entidades contemplados.


Em tempos no qual se discute o que é ou não um serviço essencial, cada vez mais percebemos o quão essenciais são as artes no nosso dia a dia – independentemente da forma como nos chegam. Há algumas semanas escrevi aqui, na seção ‘Opinião’ de A Tribuna, que o SUS (Sistema Único de Saúde) nunca mais será o mesmo após a Covid-19. Da mesma forma, acredito que a cultura passará a ser vista com outros olhos daqui em diante. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter