Estamos todos no mesmo barco

Percebemos na prática que ninguém é uma ilha: o que um faz pode afetar o outro - e vice-versa

Por: Kenny Mendes  -  20/03/20  -  09:00
Atualizado em 19/04/21 - 18:58
  Estamos todos no mesmo barco
Estamos todos no mesmo barco   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Álcool em gel, detergente, sabonete, máscaras. Cruciais para tentar barrar a transmissão do novo coronavírus, os itens significam apenas a ponta do iceberg da luta que se inicia.


Antes de mais nada, o momento exige que as pessoas se enxerguem enquanto parte integrante de uma sociedade. Estamos percebendo na prática que ninguém é uma ilha: o que um faz (ou, no caso da pandemia, deixa de fazer) pode afetar o outro – e vice-versa. Estar interligado implica consequências boas, mas não exclui as ruins. E estas podem se alastrar em efeito dominó, como assistimos agora.


O senso de coletividade se impõe. O grau de consciência do papel de cada cidadão em sua comunidade, cidade, país, será determinante para que haja luzes no fim do túnel que adentramos. Se por um lado vemos pessoas se apressando em acabar com estoques nos supermercados em causa própria, também temos exemplos de jovens auxiliando vizinhos mais velhos que muitas vezes mal conhecem. O nível de nossa responsabilidade social nos definirá ao fim desse doloroso processo.


Ao Poder Público, cabe organizar medidas para que o enfrentamento ao Covid-19 se dê da maneira mais eficaz e com o mínimo possível de impactos. A linha de frente é evitar a propagação do vírus e, nos casos confirmados, prover o tratamento adequado.


Mas, existem os efeitos adjacentes às ações adotadas contra a pandemia. O isolamento social, recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e as necessárias restrições determinadas pelos governos produzem decorrências.


A paralisação total ou parcial de diversas atividades profissionais ou comerciais, sobretudo dos segmentos de menor renda ou informais, trará uma inevitável queda – ou ausência – de arrecadação. Isso engloba desde o dono da mercearia até o pipoqueiro da praça, passando por um sem número de trabalhadores cujas funções ficarão suspensas.


São patrões, funcionários, autônomos e desempregados que, não bastasse a crise econômica que já assolava o país, agora se veem obrigados a viver um período indeterminado de incertezas dentro de casa.


Na quarta-feira (18), apresentei um ofício na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) solicitando ao Governo do Estado a suspensão de corte no fornecimento de água, luz e gás pelos próximos 90 dias (prorrogáveis) em caso de inadimplência provocada pela Covid-19. A medida, de caráter humanitário, já foi adotada pela França. Pretendo sugerir, ainda, que os débitos originados no período sejam diluídos em muitas parcelas mais à frente.


Me preocupam situações como a enfrentada pela Associação Lar de Amparo Vovó Walquíria, entidade que cuida de idosos em São Vicente e que recentemente teve a energia desligada por falta de recursos. Para não ver tão valoroso trabalho interrompido, optei por arcar com os custos pendentes, enquanto pessoa física, para que o atendimento não ficasse impossibilitado.


Nesta quinta-feira (19), uma boa notícia: dentre vários anúncios, o governador João Doria (PSDB) determinou à Sabesp suspender a cobrança da tarifa social para todo o estado em função da crise, o que beneficiará 506 mil famílias de baixa renda.


Uma decisão justa. Esperamos que a ação seja estendida para os demais usuários não só dos serviços da Sabesp, como das concessionárias de energia e gás. São Paulo, que vem desenvolvendo um trabalho de muita seriedade no enfrentamento ao vírus, pode se tornar pioneiro na adoção de uma medida, mais que tudo, de caráter humanitário.


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