Crianças não são imunes

Centro de Contingência do Coronavírus decide adiar a retomada das aulas presenciais para 7 de outubro

Por: Kenny Mendes  -  14/08/20  -  11:20
Grêmios estudantis: o instrumento e caminho para o início da mudança política
Grêmios estudantis: o instrumento e caminho para o início da mudança política   Foto: Alberto Marques/Arquivo/AT

Em junho, o Governo do Estado anunciou que as aulas presenciais na rede de ensino paulista voltariam a partir de 8 de setembro. Nesta semana, no entanto, por recomendação do Centro de Contingência do Coronavírus, a retomada foi adiada para 7 de outubro.


A decisão foi tomada, segundo o governador João Doria, para “garantir uma margem de segurança ainda maior para as crianças, adolescentes, professores, gestores e profissionais da rede pública e privada de ensino e, obviamente, para os seus familiares”. Sensato. Mas o que nos garante que, daqui dois meses, a situação estará controlada o suficiente para que todas as escolas reiniciem as atividades? Sejamos sinceros: nada.


Naquele 24 de junho, quando do primeiro anúncio, havia 42.725 casos confirmados em solo paulista. Nesta quinta-feira (13), já chegavam a 655.181. Ainda que parte dos municípios esteja na fase amarela do Plano São Paulo, com a atividade econômica retomada parcialmente, estamos longe de poder afirmar que o cenário é tranquilo. Não é.


As crianças e os adolescentes são nosso bem mais precioso. Há uma série de fatores adjacentes ao retorno das aulas: a convivência em turmas, os acessos internos, o deslocamento (leia-se transporte) e a alimentação, entre tantos mais. Por mais que os protocolos de segurança sejam estabelecidos, qualquer brecha pode ser fatal.


Ao contrário do que alguns pensam, os menores de idade não estão imunes à doença. Dados da Secretaria de Estado da Saúde divulgados na quarta-feira (12) mostram que 41.717 já foram diagnosticados com a Covid-19 – abaixo de 10 anos (14.265) e entre 10 e 19 anos (27.452). Há, ainda, o perigo de que um aluno contaminado assintomático possa levar o vírus para familiares, professores etc.


Não é à toa que uma pesquisa feita pela Prefeitura de Santos apontou que 80% dos responsáveis pelos alunos da rede municipal são contra o retorno dos estudantes às aulas. Não só isso: defendem as atividades presenciais somente em 2021. Outros municípios da Baixada Santista também demonstram cautela. Não é exagero. Nos Estados Unidos, na semana passada, o departamento de saúde de Indiana notificou uma escola um dia após esta retomar as atividades: um estudante, que circulou por corredores e salas, havia testado positivo para o coronavírus.


Enquanto integrante da Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), tive a oportunidade de vistoriar muitas escolas estaduais da nossa região. Se vi exemplos positivos – e tenham certeza de que existem –, observei também unidades em estado lastimável. Fica difícil supor que um equipamento que já enfrentava tamanha dificuldade tenha, de repente, condições para atender a todos os protocolos exigidos contra o coronavírus.


Acho prematuro estipularmos datas para a retomada. Ainda estamos aprendendo a como nos portar nessa nova realidade, dia após dia. Traçar um cronograma definitivo, agora, é pisar em areia movediça. Enquanto educador, posso dizer: o aprendizado nós podemos recuperar; as vidas, infelizmente não.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter