Bloco na rua

Fatos registrados na terça-feira, durante desfile da banda Carnatole, no Gonzaga, quando a Polícia Militar precisou intervir para coibir arrastões, não podem ser ignorados

Por: Kenny Mendes  -  31/01/20  -  08:00
PM fez um bloqueio na Rua Tolentino Filgueiras, no cruzamento com o Canal 3
PM fez um bloqueio na Rua Tolentino Filgueiras, no cruzamento com o Canal 3   Foto: Solange Freitas/TV Tribuna

Se já foi conhecida por ter o segundo melhor carnaval do Brasil (perdendo apenas para o Rio de Janeiro), Santos recupera a cada ano sua vocação para os festejos. Os desfiles na cidade foram interrompidos por cinco anos, sendo retomados em 2006. A ausência da disputa oficial entre nossas escolas de samba foi sentida pela comunidade – que, no entanto, não se abateu e reergueu a folia, tanto que 17 agremiações concorrem ao título em fevereiro.


Muito do êxito, temos que reconhecer, se deve à persistência das bandas e blocos de rua locais. Foram esses grupos que, literalmente, não deixaram a festa morrer naquele momento e asseguraram à população o direito de continuar brincando o carnaval. Foi como uma luz no fim do túnel para os integrantes das escolas de samba – até hoje é usual vê-los participando da bateria de algumas das principais bandas. Tudo anda junto.


Ao contrário do que se prenunciava, a temporada sem a festa oficial ocasionou um movimento oposto. O carnaval de rua caiu no gosto das novas gerações e as bandas começaram a proliferar em todos os cantos, cada vez com mais foliões. Ou seja – essas agremiações conseguiram reconquistar o que de mais precioso existe para as festividades carnavalescas: a participação popular espontânea.


O interessante é que o fenômeno ainda está em curso. Em 2018, 49 agremiações participaram do Santos Carnabanda. No ano passado, foram 55. Desta vez, 60 se inscreveram. Uma boa notícia para a cultura local, claro, mas também para o turismo e a economia regionais.


Posto isso, os fatos registrados na terça-feira, durante desfile da banda Carnatole, no Gonzaga, quando a Polícia Militar precisou intervir para coibir arrastões, não podem ser ignorados. Não foi o único problema verificado nas últimas edições do evento, infelizmente. O Poder Público precisa, sim, fazer uma ponderação sobre o formato atual do Carnabanda a fim de garantir a segurança do folião, que é a razão de ser da festa. Festa que, ao crescer a cada temporada, necessita estar sob constante reavaliação.


Sou testemunha do esforço, perseverança e motivação que movem esses grupos. Terei a honra de ser homenageado neste ano pela Banda da Lazinha, da Vila Belmiro. Fico tocado em especial porque o samba-enredo, 'Ao Mestre, com Carinho', traz uma bela reflexão sobre a importância da figura do professor e da arte de ensinar.


O desfile está originalmente marcado para este sábado (1º de fevereiro) – ainda não há confirmação se a data será mantida, pois as novas medidas sobre a organização do evento serão anunciadas nesta sexta-feira pela Secretaria Municipal de Cultura.


Acho que de tudo temos que tirar lições na vida, especialmente dos percalços. E tentar sempre aperfeiçoar o que fazemos, não adianta lavar as mãos. Em um passado não tão distante, problemas nos desfiles das escolas de samba levaram ao seu cancelamento. O mesmo ocorreu com o Banho da Dona Doroteia e com os shows na praia, que acabaram proibidos. Extinguir uma manifestação cultural não implica o fim da violência. É uma atitude que pune somente a vítima, ou seja, a população que quer prestigiar os eventos.


No episódio da última terça-feira, é preciso identificar e punir os responsáveis pelos crimes. O Poder Público tem o dever, a partir de agora, de encontrar novos mecanismos para coibir ações que possam prejudicar as apresentações. Não há outro jeito: vivendo e sempre aprendendo. Restringir a participação popular a cada adversidade me parece um tanto simplista. Se tivermos um arrastão na saída de um cinema, todas as salas de exibição devem ser fechadas?


Torço para chegarmos a um denominador comum. Cada vez mais nos vemos confinados dentro de casa. A sociedade não pode seguir nesse rumo. Que as famílias, de santistas e visitantes, possam ter assegurada a tranquilidade para aproveitar e vivenciar a tradição do nosso carnaval.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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