Racismo não é apenas crime, é o ápice da sordidez humana

Na véspera do Dia da Consciência Negra, o assassinato bárbaro de João Alberto, homem negro de 40 anos, por dois seguranças brancos da rede de supermercados Carrefour chocou o país

Por: Júnior Bozzella  -  23/11/20  -  11:45
Atualizado em 19/04/21 - 18:51
 Homem negro é espancado e morto por segurança e PM em Carrefour
Homem negro é espancado e morto por segurança e PM em Carrefour   Foto: Reprodução

Não se trata só de mais um homicídio ou de mais um ato racista, são cenas de horror como a que vimos que mostram que o racismo é a miséria do ser humano, uma das mais tristes mazelas da sociedade a serem combatidas.


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Rapidamente consigo citar alguns exemplos do quão presente está o racismo no Brasil. Desde o caso do morador de um condomínio de luxo em Valinhos (interior de SP) que hostilizou um entregador de aplicativo fazendo um gesto em relação a cor da sua pele, ou do rapaz que foi trocar um relógio nas Lojas Renner no Rio de Janeiro e foi espancado porque acharam que ele estaria ali para roubar, até o caso do jovem Rogério de 19 anos que pegou a moto de um amigo emprestada e foi baleado por policiais que acreditaram que ele tivesse roubado o veículo. São exemplos claros onde a cor da pele foi um fator determinante para que se criasse um “pré conceito” acerca de quem seriam aquelas pessoas e o que elas estariam fazendo nestes locais, pré julgamento este feito a partir da cor da sua pele.


Negar a existência de racismo no Brasil é ignorância. Não é preciso ser negro para sentir na pele o que passam os negros no Brasil. Dados do Estudo Desigualdade Racial por Cor ou Raça no Brasil, realizado em 2018 pelo IBGE, apontam que o rendimento médio domiciliar per capita de pretos e pardos no Brasil era de R$ 934, enquanto o de brancos era quase o dobro, chegando a R$ 1.846.


As diferenças não param por aí. Em relação ao mercado de trabalho mulheres negras recebem menos da metade do que os homens brancos. Isso sem citar os cargos gerenciais que são ocupados em sua esmagadora maioria por brancos, 68,8%, e apenas 30% por negros. Só 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores empresas do país são preenchidos por negros.


Outro número que assusta é que em todos os grupos etários, a taxa de homicídios da população preta ou parda supera a da população branca. Entre jovens, o número é ainda mais discrepante. Em 2017, a taxa de homicídios por 100 mil brasileiros foi de 98 mortes de negros contra 34 de brancos. O número sobe para 185 quando se trata de homens negros jovens.


Segundo informações do Atlas da Violência 2020 a taxa de homicídios de negros (pretos e pardos) cresceu 11,5%, de 2008 a 2018, enquanto a de não negros (brancos, amarelos e indígenas) caiu 12%.


O estudo foi elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e tem como base de dados os números apresentados pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde (SIM/MS). Ele revela que ao todo, os negros somam 75,9% dos brasileiros assassinados na década analisada. Hoje, no Brasil, os negros representam 75% dos mortos pela polícia e 62% dos presos.


Não é por acaso que a pandemia de Covid-19 matou 55% dos negros e 38% dos brancos que foram internados.


São desigualdades abissais como estas que mostram que o Brasil ainda tem muito a evoluir quando o assunto é racismo.


O preconceito no Brasil independe de classe social. A triste realidade que vemos é que se um negro bem sucedido entra numa loja para comprar algo ele quer roubar, se ele aparece com um relógio, um tênis da moda, um carrão ou uma moto, a sociedade pensa que ele já roubou. É um absurdo sem tamanho, mas acontece mais do que se imagina. Se você não consegue enxergar, pergunte a um amigo, ele certamente conhece alguém ou ele mesmo já passou por isso.


A pergunta que brota da indignação de assistir mais uma vez a homens brancos agredindo covardemente até a morte um homem negro é até quando? É obrigação do poder público combater ostensivamente o preconceito racial, acabar com esse câncer que corrói o Brasil e o mundo. Não podemos ser permissivos, não podemos calar, porque seria o mesmo que consentir. Na condição de parlamentar seguirei fazendo o que estiver ao meu alcance para endurecer a punição daqueles que cometem crimes ligados ao racismo. É inadmissível que isso seja tratado com normalidade e que assassinos sádicos continuem impunes.


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