Quem será a próxima vítima? O Brasil!

O presidente Bolsonaro se inspira, cada vez mais, nas manobras do ex-presidente Lula para se manter vivo na disputa presidencial em 2022

Por: Júnior Bozzella  -  17/08/20  -  11:15
Programa emergencial foi anunciado pelo governo na noite desta quarta-feira (1º)
Programa emergencial foi anunciado pelo governo na noite desta quarta-feira (1º)   Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O Brasil vem de uma série histórica de desgovernos. A tríade Lula, Dilma e Temer levou o país à bancarrota. Desesperado, o povo procurou mudança, votou pela mudança e elegeu o que acreditada ser diferente, mas depois de quase dois anos do novo “velho” governo, já ficou claro que o presidente eleito nunca foi diferente.


O Lula foi eleito, reeleito e conseguiu eleger duas vezes a sua sucessora com uma receita infalível no Brasil: assistencialismo, programas de renda na mão do povo.


O presidente Bolsonaro se inspira, cada vez mais, nas manobras do ex-presidente Lula para se manter vivo na disputa presidencial em 2022. De acordos com o Centrão, à distribuição de todo tipo de “auxílio” discaradanente mascarando a velha prática da compra de voto, Bolsonaro vai fazendo o que garantiu que não faria, vai copiando as estratégias petistas, e vendo a sua popularidade subir em meio a uma crise econômica e sanitária que já deixou cerca de 13 milhões de desempregados, 2,5 milhões de infectados e mais de 100 mil mortos pela Covid-19 no Brasil. 


E daí? Se pergunta o presidente, já que a popularidade está aumentando. E daí? Se pergunta o povo, já que está recebendo auxílio emergencial, auxílio alimentação, auxílio escola, auxílio creche, auxílio gás e por aí vai .... E daí que essa fórmula mágica tem um preço, que vai estourar exatamente no bolso de quem tem menos. Os grandes prejudicados com a economia do Brasil sangrando a olhos vistos são os brasileiros que hoje voltam para casa com o “combo pandemia” sem saber que está pagando por isso com o almoço de amanhã. O Bolsonaro não está preocupado que vai faltar comida na mesa do povo, a sua única preocupação é que o povo não enxergue o que está acontecendo e, assim, não vá às ruas pedir a sua saída. 


Parafraseando o presidente, ele é Messias, mas não faz milagres. Você nem precisava dizer Jair, isso já ficou bastante claro! Como a própria equipe econômica pregou no início do governo, a conta não vai fechar. O “cala-boca” que ele está tentando dar hoje será arrancado do povo depois, simplesmente porque não existe sobras, o que tinha foi sendo sugado nos últimos 16 anos de governos tortos. 


Brasileiros, não se iludam com esse afagos a lá Lula. A economia brasileira registrou uma retração de 10,94 no segundo trimestre de 2020 segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) divulgado recentemente pelo Banco Central (BC). Esse indicador é uma prévia do desempenho do Produto Interno Brito (PIB), que deve ser divulgado pelo IBGE no próximo mês. Falando português claro, esses números indicam que o Brasil vive tecnicamente uma recessão com a retração de cerca de 11% do PIB. 


O Governo segue tentando vender uma imagem otimista para não assustar a população, mas os investidores e as instituições internacionais não estão nada otimistas em relação ao desempenho da economia no Brasil. 


Um ano e meio após tomar posse com a bandeira do combate à corrupção e à “velha política”, o Bolsonaro de hoje é um homem acuado por investigações que trazem incertezas para o futuro do mandato, é um homem que vendeu a alma e negociou tudo para tentar garantir a sua sobrevivência no Palácio do Planalto. Com a família envolvida em escândalos de corrupção, orçamentos milionários nas mãos de ex-mensaleiros e um festival de distribuição de cargos para o Centrão vemos nascer a nova versão da “velha política”, a versão 2.2 do Lula cujo nome é candidato Bolsonaro. Trocou-se a camisa vermelha pela verde e amarela, deu-se um tapa na barba, um upgrade no radicalismo e bora-la! É disso que o povo gosta. Se deu certo pra ele, vai dar certo pra mim, está pensando o Bolsonaro nesse momento. Se vamos pegar um país falido e jogá-lo entre as piores economias do mundo não tem problema. Se amanhã faltar comida na mesa do povo, e daí? 


Mas presidente, peraí, estamos falando em uma população de quase 15 milhões de desempregados. As pessoas vão morrer de fome, assim não vai sobrar dinheiro para hospital e nem para educação, pergunto eu ou qualquer eleitor.  A resposta dele: E daí? Se o povo continuar sem perceber que vai pagar caro lá na frente como pagou com os governos anteriores tudo bem.


Bolsonaro sucumbiu às manobras nocivas que antes condenava, como a entrega de cargos ao Centrão para barrar um eventual processo de impeachment no Congresso. Esses movimentos, em sentido oposto às promessas de campanha e mais identificados com a tradição política brasileira, revelam semelhanças entre a postura atual de Bolsonaro e a adotada pelo ex-presidente Lula (PT) em 2005, no escandaloso caso do mensalão.


A onda antipetista e anticorrupção elegeu Bolsonaro que, hoje, utiliza o mesmo modus operandi que tanto criticou para se manter no governo. Vamos recapitular um pouco, a gente não precisa ir muito longe. Em 2005 enquanto o STF avançava com a Ação Penal nº 470, o chamado processo do mensalão, vinte e cinco aliados de Lula foram condenados por envolvimento no esquema de desvio de dinheiro público para a compra de apoio político, muitos davam a sua saída da presidência como certa. Como resolver isso? Ai reside uma das principais semelhanças entre os gestos de Bolsonaro e de Lula: a arte da barganha pelo apoio político do Centrão. Ajoelhou tem que rezar e Bolsonaro mostrou que conhece bem o ditado. Se, durante o mensalão os parlamentares desse grupo eram pagos em dinheiro para apoiar o governo, agora eles comandam orçamentos bilionários de importantes estatais e autarquias, como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), cuja verba anual é de R$ 54 bilhões.


Um dos maiores expoentes do Centrão, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), condenado e preso no mensalão, hoje é um dos principais aliados de Bolsonaro.


Quer mais semelhanças? Tem sim! Vamos pegar o projeto do Lula e mudar o nome. O Bolsa Família agora chamará Renda Brasil. Nome patriótico a pedido do capitão. Investir no Bolsa Família foi o caminho que o Lula encontrou para recuperar a sua popularidade e se reeleger depois do escândalo do Mensalão. Qualquer semelhança entre os gestos do presidente Bolsonaro, NÃO é mera coincidência. 


Alguém acredita que Bolsonaro tenha sido acometido por um súbito arroxo da consciência social que nunca teve? Eu estou certo que não. Por traz dessa repentina guinada para o social está o pavor. A pandemia está sendo controlada e isso pode colocar o povo nas ruas exigindo o impeachment de Bolsonaro. 


Qual a saída então? Barganha. Funcionou com o Lula e com o centrão. Se esse é o caminho, vamos colocar dinheiro no bolso dos mais necessitados. O Bolsonaro acredita que se enganou o povo uma vez vai enganar de novo. Vai tentar mascarar a pior recessão da história do Brasil, o desemprego em alta e uma crise sanitária sem precedentes que não deve ter fim tão cedo. 


A missão parece estar dando certo e Bolsonaro vai cativando o eleitorado. É como dizem, parece que não importam os princípios, importa o que bate diretamente no bolso. Não importam os fatos, importam as versões. E assim Bolsonaro vai tentando comprar o “amor” do povo para fazê-lo voltar ao estado de paixão da campanha, para assim não enxergar as rachadinhas, funcionários fantasmas e compra descarada de apoio no Congresso.


Já não interessa o desempenho trágico do presidente no enfrentamento da Covid-19 no país. O Bolsonaro destruiu o Ministério da Saúde, vai fazendo “passar a boiada” em ingerências não questão ambiental que, de tão graves, já afastam investidores internacionais e atingem a economia, adotou uma política de escarnio em relação à Educação e jogou no limbo o combate à corrupção. Sergio Moro, Lava Jato, Coaf... O que é isso, minha gente? Tem o Flávio, tem o Queiróz, tem até o nome da primeira-dama envolvidos em operações ilícitas. Melhor deixa tudo isso pra lá!  


A pesquisa Datafolha divulgada recentemente aponta que Bolsonaro atingiu o melhor índice de aprovação desde a posse – 37% - e reduziu sua rejeição em dez pontos porcentuais – para 34%. 


É Paulo Guedes, agora a sua batata está assando, porque pela reeleição vale-tudo. A ordem agora é estourar o teto de gastos. Não importa o tamanho do desastre econômico. Se o Moro foi dormir ídolo e acordou Judas, tente salvar a economia do Brasil e se prepare para a sua nova alcunha. 


Triste e desesperador, mas a pesquisa mostra que a guilhotina foi colocada de maneira visceral no pescoço do Brasil. Se o preço da reeleição é sangrar a economia, que se estoure o teto de gastos, que se cortem cabeças, e que se afunde a economia. Bolsonaro acima de tudo e de todos, já sabemos qual será o slogan da campanha em 2022.


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