Fake news: da destruição de reputações à destruição de vidas

Estudo mostra que 7 em cada 10 brasileiros se informam pelas redes sociais e 62% dos entrevistados admitiram já ter acreditado em alguma notícia falsa

Por: Júnior Bozzella  -  09/12/19  -  09:13
A disseminação de fake news ganhou a atenção da mídia e espaço nas discussões do Congresso Nacional
A disseminação de fake news ganhou a atenção da mídia e espaço nas discussões do Congresso Nacional   Foto: Reprodução/Nanquin.com.br

Segundo dados de uma pesquisa divulgada no fim do ano passado pelo Instituto Ipsos, os brasileiros estão entre as nacionalidades que mais acreditam em fake news (notícias falsas) no mundo.


O estudo mostra que 7 em cada 10 brasileiros se informam pelas redes sociais e 62% dos entrevistados admitiram já ter acreditado em alguma notícia falsa. A pesquisa, feita entre junho e julho de 2018, ouviu 19.243 pessoas em 27 países.


A disseminação de fake news ganhou a atenção da mídia e espaço nas discussões do Congresso Nacional após denúncias de utilização política de fake news pelo gabinete da presidência da república para atacar adversários. Entretanto, a gravidade da questão vai muito além de exclusivamente a destruição de reputações, estamos falando da destruição de vidas.


A disseminação de Fake News já virou questão de Saúde Pública exigindo, inclusive, ações do Ministério da Saúde para conter os danos causados pela multiplicação de informações mentirosas sobre vacinas, medicamentos e até curas supostamente milagrosas de doenças graves como o câncer e a Aids através de preparos caseiros. Notícias falsas espalhadas pelas redes sociais tem feito com que pessoas criem expectativas equivocadas e deixem de tomar medicamentos, e o resultado dessa equação é a morte!


Mudando completamente o cenário da discussão, mas sem diminuir a gravidade e consequências dos fatos, nas últimas eleições brasileiras, por exemplo, a questão das notícias falsas foi bastante discutida.


A ex-presidente da Costa Rica Laura Chinchilla, chefe da missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) no Brasil, chegou a declarar na época que o uso do WhatsApp para disseminação de notícias falsas na eleição brasileira era um caso “sem precedentes”.


No nosso país o WhatsApp tem sido a principal ferramenta escolhida por esses criminosos virtuais, pois é uma rede que apresenta muitas complexidades para que as autoridades possam acessar e realizar investigações.


Indo além, no ápice da gravidade dos fatos, está a irresponsabilidade com que essas notícias falsas são disparadas.


Na Índia, recentemente, pelo menos seis pessoas já morreram linchadas por causa de mensagens falsas transmitidas em massa pelo WhatsApp. O enredo é quase sempre o mesmo, explorar situações alarmistas, com o objetivo de incitar o preconceito e o ódio com o apelo para que o suposto “alerta” seja repassado para o maior número de pessoas possível da sua lista. Quem nunca recebeu uma mensagem assim e acabou repassando? Provavelmente ajudou, sem saber, a disseminar fake news.


Em um dos casos que aconteceu no distrito Indiano de Balaghat, cerca de 50 moradores de uma vila espancaram dois homens até a morte depois de suspeitarem que eles faziam parte de uma quadrilha de ladrões de órgãos. Após investigação apurou-se que os dois assassinados eram inocentes e que a polícia não tinha qualquer indício de que um grupo estaria atuando na região.


Esse é apenas um exemplo, mas de acordo com informações da Reuters, mais de doze pessoas já foram espancadas no território indiano ao longo dos últimos meses, sendo todos os crimes motivados por fake news enviadas pelo WhatsApp.


Não precisamos nem ir tão longe para encontrar casos onde a disseminação de fake news resultou em atos de extrema violência e acabou em assassinato, destruindo a vida de inocentes.


Na Baixada Santista mesmo, no Guarujá, em 2014, moradores do bairro de Morrinhos se juntaram a dezenas de pessoas que gritavam por justiça revoltadas contra Fabiane Maria de Jesus, que tinha na época 33 anos e foi violentamente agredida numa via-crúcis que durou cerca de duas horas. Ela acabou sendo resgatada, mas morreu dois dias depois. Qual a motivação para o terrível ataque que culminou na morte da mulher? Dias antes do linchamento, uma página no Facebook chamada “Guarujá Alerta”, com 56 mil seguidores, publicou informações sobre uma mulher que estaria raptando crianças para realizar magia negra. A pagina postou um retrato falado e a foto de uma mulher loira que acabou sendo confundida com Fabiane. Essa mulher inocente morreu vitima de fake news! Os moradores acreditaram que ela era a tal sequestradora de crianças denunciada na página, mas a verdade é que essa sequestradora nunca existiu. A polícia depois de várias investigações confirmou que não havia nenhuma denúncia de sequestro de crianças em Guarujá.


As fakes news são uma das mazelas da atualidade e precisam ser vistas, combatidas e punidas com o rigor proporcional a gravidade dos danos que causam. O poder nocivo das notícias fraudulentas pode manipular eleições, acabar com reputações e destruir vidas e como parlamentar vamos buscar um caminho para responsabilizar os propagadores dessas notícias falsas pelas consequências dos seus atos.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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