Arroz e feijão não são artigos de luxo e tem que estar acessíveis a todo brasileiro

Brasil começa a vivenciar uma alta desenfreada no preço de itens básicos da mesa do brasileiro

Por: Júnior Bozzella  -  14/09/20  -  09:33
Preço do grão para o consumidor disparou 71% desde o início da pandemia
Preço do grão para o consumidor disparou 71% desde o início da pandemia   Foto: Carlos Nogueira/AT

Fazer as compras do mês ou mesmo da semana está cada vez mais complicado para grande parte dos brasileiros. Não bastasse o poder devastador da pandemia que deixou centenas de milhares de desempregados, o Brasil começa a vivenciar uma alta desenfreada no preço de itens básicos da mesa do brasileiro como o arroz e o feijão.


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A dona de casa e o trabalhador vêm assistido o seu dinheiro “encolher” enquanto chega o temor de ter que tirar da mesa alimentos essências para o sustento da família como o arroz, que hoje está sendo vendido a preço de ouro.


Escassez de produto, a pandemia, o aumento de consumo nas residências e a desvalorização do real favorecendo as importações, tudo isso ocorreu, mas o povo não precisa de culpados e sim de soluções. O produtor, lá na outra ponta reclama de dívidas e abandono por parte do governo federal, já nesta ponta, no caixa do supermercado, o pai de família se vê em dificuldades para continuar colocando arroz e feijão na mesa de casa.


O fato é que em 2019 o Brasil exportou 269.164,9 toneladas de arroz, segundo dados do Comex Stat do Ministério da Economia. Já entre janeiro e agosto de 2020 o montante chegou a 487.428,8 toneladas. O arroz que era negociado entre R$ 48 e R$ 52 o saco, agora chega a ser negociado a mais de R$ 100 no mercado interno. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), na última quinta-feira (10) a cotação era de R$ 105.


O Ministério da Agricultura anunciou na última semana uma medida para conter a alta dos preços, limitando a isenção de taxas de importação a 400 mil toneladas de arroz em casca e beneficiado até 31 de dezembro. Entretanto o buraco é mais embaixo. O produtor segue questionando que o governo tirou a TEC (Tarifa Externa Comum) para importação, mas para os nossos insumos ainda existem várias TECs, em diversos produtos que não podem importar. Essa é uma antiga reivindicação no Mercosul, poder comprar e produzir com igualdade, algo que não se vê no Brasil.


O resumo do cenário é que ao chegar no mercado hoje a dona de casa encontra o arroz cerca de 20% mais caro desde o início do ano, o preço do feijão mulatinho subiu 32,6%, o da abobrinha, 46,8%, e da cebola, 50,4%, segundo dados divulgados na última pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Enquanto o cenário de inflação assusta, o presidente Jair Bolsonaro teve outra famigerada ideia para conter a alta de preços: pedir aos donos de supermercados patriotismo para não repassar a alta dos valores ao consumidor. Diante de tudo que falamos acima e dos preços cerca de 50% mais caros cobrados pelo produtor, faz algum sentido querer que o dono do mercadinho da esquina, em um arroubo de patriotismo, não aumente o preço dos itens? É claro que não! Muito fácil colocar a responsabilidade do problema na conta dono do mercadinho de bairro. Quem precisa ter patriotismo é o presidente da república e entender de uma vez por todas que a economia do Brasil vai de mal a pior e que ele precisa tomar uma atitude antes que falte o básico na mesa do povo brasileiro


Não dá pra resumir o problema do salto de preços de itens essenciais da cesta básica na falta de patriotismo dos donos de supermercado. A questão vai muito além, estamos enfrentando uma crise causada pelo aumento da demanda e escassez de produtos em virtude do grande aumento nas exportações e diminuição das importações motivadas pela alta do dólar. Presidente, o que resolve isso é política econômica do governo federal e não populismo. Não tem cabimento querer que os donos de mercados resolvam uma questão que compete à presidência da república.


Outra questão que virou discurso de político foi a troca do arroz por macarrão. Fácil falar em substituir o arroz pelo macarrão para forçar o preço do grão para baixo. Mas vamos bater na casa do pai de família e avisar para ele que a partir de amanhã as crianças não terão mais arroz com feijão, que será macarrão com feijão? Presidente Bolsonaro, o senhor substituiu na sua mesa? No prato dos seus filhos? Cerca de 95% dos brasileiros comem arroz, é um disparate pedir que o brasileiro deixe de comer arroz e feijão para resolver o problema da alta abusiva de preços.


Outro detalhe que parece ter sido esquecido com essa sugestão estapafúrdia é que o macarrão é feito de farinha de trigo, e grande parte do trigo consumido do Brasil é importado. Em um momento de real desvalorizado isso significa pagar mais pelo grão em real e encarece o valor médio dos derivados.


As soluções propostas pelo governo para controlar a alta dos preços causam espanto e precisam ser freadas, pois transferem para as famílias brasileiras, em meio a uma crise econômica, o ônus de pagarem pelo aumento de produtos tão básicos e tão importantes.


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