A lógica econômica: Pandemia x tempos normais

Se continuarmos achando que a melhor maneira de a economia do país passar por essa pandemia é ignorando-a ou, pior, tentando medir forças com ela, seremos duramente castigados

Por: Júnior Bozzella  -  06/04/20  -  12:36
Comércio com as portas fechadas durante a quarentena em São Vicente
Comércio com as portas fechadas durante a quarentena em São Vicente   Foto: Matheus Tagé/AT

Nenhuma expressão que tenha ouvido nos últimos dias me soou tão verdadeira como “tempos inexperimentados”, as palavras do sábio filósofo espanhol Emilio Lledó traduzem com precisão e objetividade o que estamos vivendo. 


É fato que se trata de uma crise sem precedentes em nosso passado recente. Para buscarmos referências somos forçados a nos voltar para 1918, início do século passado, quando a pandemia da gripe espanhola, muito semelhantemente ao que acontece agora, atingiu em cheio o planeta, deixando 500 milhões de pessoas infectadas (um terço da população mundial na época) e matando 50 milhões, provocando uma redução média de 18% na produção industrial em escala estatal. 


Apesar do distanciamento imposto pela realidade dos dias de hoje e atual cenário econômico, o que podemos apreender disso e do exemplo bem mais recente de países como Cingapura e Coreia, é que com medidas duras e assertivas é possível passar pela pandemia do novo coronavírus de maneira mais rápida e com menos sequelas.


Uma das coisas que tenho visto e muito me preocupam é a agitação dos grandes empresários e o desespero dos pequenos. Vamos lá, essa não é a primeira vez, e também não será a última, que a economia como um todo foi afetada por uma crise e nem que o faturamento dos setores do comércio e serviços teve um queda brusca. E, em todas as vezes, mesmo de portas abertas mas sem clientes, fomos obrigados a nos reinventar, sobreviver e passar por isso. Eu sou empresário desde os 17 anos, por isso entendo perfeitamente a agonia desta incerteza que estamos todos vivendo. 


Entretanto é preciso se ter em mente uma coisa: A lógica econômica em tempos de pandemia é diferente da lógica econômica em tempos normais. Se continuarmos achando que a melhor maneira de a economia do país passar por essa pandemia é ignorando-a ou, pior, tentando medir forças com ela, seremos duramente castigados. 


Todos, sejam micro-empresários, pequenos, médios e grandes, a população em geral, e os governos municipais, estatuais e federal, precisam atuar de maneira coordenada com base em medidas específicas para atravessarmos a pandemia com a melhor blindagem possível. 


Sair no meio de uma guerra desarmado e sem proteção gritando ”sou corajoso”, é pedir para ser exterminado. Orientar que as empresas do Brasil a dentro ignorem a pandemia e trabalhem normalmente, como se nada estivesse acontecendo, é exatamente isso, suicídio. E digo isso não por conta do risco de contaminação, mas pelos gastos de manutenção de uma estrutura aberta sem clientes, pela exposição de um funcionário e o risco trabalhista que isso representará, entre outros tantos fatores. Uma pandemia é economicamente tão destrutiva que medidas restritivas, se bem projetadas, ajudam a proteger e reduzir o golpe. 


Você deve estar se perguntando, mas como, se eu não trabalhar, se não produzir e não ganhar, como vou sair dessa crise? Vamos lá, nesse momento de reclusão, onde todos estão comprando menos, trabalhando menos, se expondo menos, vivendo numa espécie de “modo econômico de energia”, o fabricante e o vendedor precisam fazer o mesmo, já que as famílias diminuem o consumo e a oferta de trabalho para evitar serem infectadas. Assim, ao mesmo tempo que todos combatem a transmissão da doença, quebram a rede de contágio e permitem que, o quanto antes, as pessoas voltem às suas atividades cotidianas e, consequentemente, seus hábitos de consumo. Estudos mostram que uma reação 10 dias antes da chegada da gripe aumentou o emprego na indústria em cerca de 5% no período posterior à doença. E a ampliação das medidas de distanciamento social por mais 50 dias elevou essa taxa de emprego industrial em 6,5%.


Está comprovado que as cidades que se anteciparam na adoção de medidas de distanciamento social e foram mais agressivas em sua aplicação além de terem tido a sua população menos afetada cresceram mais rápido quando a pandemia passou, esse tipo de iniciativa não apenas reduz a mortalidade, mas também mitiga as consequências econômicas adversas da pandemia, concluíram os pesquisadores do Federal Reserve dos EUA, do Federal Reserve de Nova York e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).


O novo coronavírus é real e vai causar efeitos imensuráveis porque impacta dois sistemas. No plano individual, o vírus ataca o sistema respiratório das pessoas. A velocidade do contágio e a ausência de vacina ou tratamento específico levam a um cenário catastrófico diante dos inúmeros infectados, e desafiador para o sistema de saúde do país, que poderá, nos moldes de uma verdadeira “escolha da Sofia”, ter que escolher a quem salvar, como temos visto na Itália e na Espanha. 


Por outro lado, a necessidade de isolamento (lockdown) de boa parte da população paralisa outro sistema vital: a economia, que é como o sistema circulatório humano. 


Estamos em guerra, e não é possível sair de uma guerra sem escoriações. Precisamos estar preparados, unidos e munidos de informações para fazer a coisa certa que, nesse momento, é o isolamento social. Paralelamente o governo Federal tem a obrigação de apresentar um planejamento para liderar o país para fora dessa crise, determinar aos bancos linhas de créditos a juros baixos, isentar ou estender prazos para pagamento de tributos, injetar dinheiro na economia e cortar na própria carne, enquanto nós parlamentares, lá no Congresso Nacional, estamos cumprindo a nossa missão, trabalhando e apresentando ao governo propostas para garantir não só a vida das pessoas, mas também a saúde econômica e financeira do nosso país. E assim, com união e responsabilidade, o Brasil vai sim sair dessa!


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