Na última semana o assunto que dominou todos os noticiários foi a prisão do deputado federal Daniel Silveira (PSL) após publicar um vídeo em suas redes sociais em que pedia uma “surra” nos ministros do STF e evocava o AI-5, que marcou um dos períodos mais nefastos da ditadura no Brasil.
Sem notoriedade entre os pares na Casa diante da pouca expressividade do mandato, Silveira sempre foi conhecido mais como um you tuber extremista do que como parlamentar. Se o objetivo era lacrar, Daniel Silveira, lacrou, talvez não do jeito que imaginava, mas conseguiu chamar a atenção do STF, do Congresso Nacional e de toda uma sociedade indignada com os seus arroubos autoritários.
Uma rara unanimidade no STF decidiu pela prisão de Silveira, que foi mantida pelo meu voto e o de mais 363 parlamentares contra 130 que entenderam que deveriam liberá-lo da prisão. Prefiro acreditar na ignorância e entender que esses 130 deputados federais não compreenderam a gravidade do que está a se passar no Brasil. O que estava em jogo na Câmara dos Deputados é o destino de uma nação que lutou para se libertar do autoritarismo.
Recentemente vimos nos EUA uma cena de selvageria e terror com extremistas invadindo o Capitólio nos Estados Unidos, num ato inflamado pelo radicalismo do então presidente Donald Trump. É isso que queremos aqui no Brasil? É a mercê desse grupo e desse tipo de ameaças que vamos ficar? No que depender de mim, não!
O comportamento extremista já é um conhecido modus operandis de governos totalitários para tomar o poder e/ou se manterem nele. Eles criticam as regras e as leis para justificar transgredi-las e, assim, chegarem aonde querem. Se Daniel Silveira entendia que existe algum tipo de irregularidade no STF o caminho legal para denúncia-las seria a Câmara ou ainda o Senado, através do pedido de impeachment de algum ministro baseado em provas. Mas ele optou por utilizar as redes sociais não apenas para criticar a Corte, mas sim para inflamar a nação contra os ministros do Supremo, praticamente convocando cidadãos a darem uma “surra” nos magistrados. Isso não pode ser entendido como liberdade, porque não é. A liberdade de uma pessoa termina quando invade o direito e a segurança da outra.
Em uma sociedade existem regras para que seja possível a convivência. O vale tudo é anarquia. E os únicos que se beneficiam com ela são os radicais, que tentam criar um ambiente de tamanha animosidade e total descontrole para justificarem a tomada do poder a força.
Infelizmente temos em nosso país à frente da presidência da república alguém que se posiciona como um legitimador desse tipo de comportamento violento e radical. Um representante que esbraveja escolher a pólvora em vez do diálogo e que prefere armas a pessoas. Pesquisadores da Unicamp que mapeiam grupos neonazistas e estudam o fascismo no Brasil há quase 20 anos identificaram que, sempre que o Bolsonaro falava, o comportamento fascista na internet crescia muito. Desde que assumiu, houve um aumento exponencial. O presidente vem aparecendo nesse cenário todo como o maior legitimador do discurso violento porque o está institucionalizando. Bolsonaro se transformou em uma espécie de chancela ao radicalismo, uma vez que o seu discurso vai ao encontro desses grupos, eles se sentem estimulados, entendem que estão seguindo a autoridade maior do país e que, por isso, não estão infringindo regras e, assim, nada pode pará-los. Para os extremistas os errados sempre são os outros.
Venho há muito tempo combatendo o radicalismo. Fui agredido e chamado de traidor, por não defender e me posicionar contra esse extremismo nocivo e perigoso. Enfrentei uma série de pedidos de expulsão na missão de livrar o partido e o país dessa tirania. Foi decisivo o recado da Câmara dos Deputados para estancar a escalada autoritária e colocar um freio na selvageria que estão tentando instalar na sociedade. Deixamos claro que não compactuaremos com ataques e ameaças às instituições democráticas e que serão punidos com rigor aqueles que ousarem atentar contra a nossa democracia.