Tem dias que é assim, desse jeito. Acordo me perguntando por onde andam alguns clientes de quem gosto muito. Se nos desencontramos nas esquinas, nos caminhos e na livraria, se cria esse vazio em mim. Eles são de idade mais avançada, um exemplo dessas maravilhosas figuras é o Sr. Benê, ‘Seu’ Benê, como o cumprimento.
Figura de riso largo e fácil, gosta de violão, de história e tem opinião bem formada. De tão simpático, dificilmente faz uma resenha do Brasil do dia a dia, porque esses dias não são fáceis, ou não estão fáceis. Seu Benê prefere a prosa suave e bem humorada.
Um dia, nos encontramos no caminho, na rua, e ele me pediu algo. Disse que me admirava e me fez prometer que nunca seria um político, no que prometi na hora, já dizendo que ser livreiro é, também, um ato político. Rimos de nós mesmos e nos despedimos para viver o dia que se apresentava.
Escrevo essas linhas porque, hoje, depois de umas semanas, cruzei com Seu Benê no caminho novamente. Paramos e nos cumprimentamos, e disse algo como “seguimos na luta elegante”, né, Seu Benê? Rimos como sempre.
Sei que é um pouco de exagero meu, mas esse pensamento me assalta em dois momentos: quando não vejo meus amigos da velha guarda há muito tempo e quando vendo livros enormes para esses amigos na livraria. Bate um sentimento, uma tristeza de pensar que, ao levar um calhamaço de mil páginas, o livro pode vencer o leitor.
Mas, e se eu pensar de outra forma, como nos textos de realismo mágico, de um Garcia Marquez, por exemplo, em que a personagem - ‘Cem anos de solidão’, Editora Record - enganava a sua hora derradeira bordando e desmanchando seu bordado eternamente, de sua mortalha? Assim, enganava a morte que o rondava.
Seu Benê, quero que leia livros enormes, sagas épicas e trilogias, uma atrás da outra.
E vê se não some!