Depois de muitos nãos, o sim. O meu começo (agora completo!)

Quando ouço de algum cliente ou amigo algo como, você nasceu pra esse trabalho, ou, é tão legal fazer o que gosta, me lembro do meu começo, vou recontar aqui

Por: José Luiz Tahan  -  21/02/19  -  15:02

Já que estamos iniciando a nossa relação via digital, vale a pena contar o primeiro causo sendo eu mesmo o personagem.


Isto foi em 1990, aos quase dezoito anos eu andava em busca do meu primeiro emprego, andava com uma pasta debaixo do braço com meus desenhos, que eram meus documentos, currículo, o que tinha, apenas.


Desenho até hoje, sempre pensando que um dia terei bons caminhos para esta vocação também, mas isso é outra história. Bem, caminhava sem muito método por Santos e conversava em lugares que imaginava poder trabalhar. Fui em lojas de fotografia, de departamentos, de locadora de vídeo, eram os anos noventa no início, ué. Um dos últimos lugares que visitei foi a Livraria Iporanga. Claro que vocês se lembram da mítica livraria que ficava junto aos cinemas na Ana Costa. Lá comprei meus Flash Gordons, Asterix e outros livros que me formaram como leitor. Lá também fugi de uma briga dentro do cinema, acho que o filme era "Jogos de guerra.", corri para a livraria, eram muitos moleques quando a luz ascendeu ao final da película.


Com essas lembranças comigo me dirigi ao rapaz do balcão, um cabeludo boa praça, que me escutou com atenção e pediu um telefone para quem sabe um dia me chamar para o trabalho, mesmo adiantando que não tinha no momento oportunidades, o quadro estava completo.


Dei um telefone de recados, eu estava sem telefone há alguns anos, e essa é outra história também, depois conto.


E, depois de uns quinze dias não é que recebo um recado?


Um recado torto, mas um recado. A vizinha disse que um rapaz havia me chamado para trabalhar, seu nome, endereço, faixa salarial, não sabia, a vizinha. Eu já irritado refiz as perguntas, ela respondeu que o nome era algo como " Zé Pedro, Zé Paulo, Zé...ah, deixa de ser braço curto e vai atrás rapaz!"


E lá fui eu novamente visitar os mais de dez lugares onde deixei meus recados, pedidos.


Levei uma sequência perfeita de negativas, inclusive na Livraria Iporanga, mas (toda história tem um mas...) o cabeludo boa praça, querido Luigi Marnoto, meu mestre e deformador preferido de todos os tempos, voltou atrás e se lembrou do que havia falado sobre gostar de ler, ser filho de professora, de gostar de desenho e HQs. Ele disse algo assim: - Olha, vem amanhã e vamos fazer uma experiência, mesmo não precisando vamos ver como você se sai.


Fiquei tão contente que não examinei melhor se foi ele quem me ligou para o emprego, isso foi apagado da minha memória e me concentrei em trabalhar.


E trabalhei. Fiz clientes, entrei numa faculdade de arquitetura e mantive o emprego simultâneo por quase um ano quando decido pelo balcão, abandonando o curso que era à tarde.


E depois de mais uns meses me veio uma proposta para ser sócio daquela livraria. Trabalhei alguns anos pagando mês a mês a minha parte, vendi um terreninho em Campinas (obrigado, mãe!) e completei os 25%.


E, num botequim, mais alguns anos adiante, o desligado do Luigi comenta com o desligado que vos escreve. Que história a sua, né? E eu: - É, sou um teimoso mesmo. Você fala de como comecei na Iporanga? Ah, achei que fui insistente e só, te dobrei, né?


Luigi: - Vai me dizer que nunca te contei o que aconteceu?


Eu: - Não, nunca.


Luigi: - Na sua primeira ida, tinha mais uma pessoa no balcão comigo, um amigo, o Armandinho. Ele vendo a sua maneira de falar, comunicativo e disposto a trabalhar não teve dúvida, pediu o seu telefone de recados. Ele ligou te convidando para iniciar uma carreira como barman, garçom ou algo parecido no seu bar recém inaugurado em São Vicente, o "Ze...Pelim".


Parece ficção, mas é real.


 


 


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