A maldição do celular

A cena se repete como uma maldição. Explico!

Por: José Luiz Tahan  -  29/03/19  -  18:32

A cena se repete diariamente, como uma maldição. O leitor ou leitora entra porta adentro caminhando a passos rápidos e mantém o braço à frente do corpo, esticado em nossa direção. Mal nos encaram, viram a tela do celular e perguntam se tem o determinado livro. Luta perdida pelo livreiro.


Imaginem a capacidade de informação possível num site de busca, um Google, uma Amazon da vida, e a capacidade física de uma livraria, no nosso caso, um caso radical, já que temos quase 50 metros por pavimento. Se imaginarmos em metros a variedade de títulos que podemos pesquisar na web, sei lá, deve dar uma estrada de papel que chega a qualquer continente distante.


Claro que existem casos e casos, e que os celulares são uma mão na roda para trazer o mundo ao nosso alcance, ou quase, quando se fala de livros. Em alguns estudos sobre consumo, se diz que os livros mais consumidos via web ou são os muito cabeludos, raros, ou os consagrados best-sellers, ficando um enorme buraco, que são os livros mais discretos, que, claro, são a maioria esmagadora à disposição. Você não adquire o que não conhece, não é mesmo?


No meu dia ideal de trabalho no balcão, sonho com leitores e leitoras que simplesmente visitem a livraria com aquela fome difusa, mas uma fome presente. Que tateiem as prateleiras com cuidado, curtindo o momento com os livros desconhecidos, sem um plano objetivo.


E que, não achando o prato pretendido no grande cardápio oferecido, nos procurem para uma conversa cheia de primeiras intenções.


Deixem o desejo do livreiro existir, os celulares vão ganhar a briga, mas o desejo fica comigo.


Estou pronto, no balcão, para matar a fome de vocês.


Obrigado pela preferência, voltem sempre, mas com o celular no bolso!


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