Uma questão de tempo

Foram prorrogadas as investigações sobre a ação de hackers suspeitos de invadir celulares do ministro Sérgio Moro, procuradores e outras autoridades das três esferas de Poder

Por: Ivan Sartori  -  01/08/19  -  03:46
Atualizado em 01/08/19 - 03:52
Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro foi alvo de hackers
Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro foi alvo de hackers   Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Atendendo pleito da PF, foram prorrogadas as investigações sobre a ação de hackers suspeitos de invadir celulares do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, procuradores e outras autoridades das três esferas de Poder. O pedido foi apresentado uma semana antes da prisão dos quatro suspeitos.


O principal deles, Walter Delgatti Neto, inclusive, já admitiu à PF ter entrado nas contas de procuradores, confessando ser a fonte que repassou mensagens ao site The Intercept Brasil, do pseudo jornalista Glenn Greenwald. O veículo digital publicou trechos de diálogos atribuídos ao, até então, juiz federal e a integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato, como o procurador Deltan Dallagnol.


Antes de qualquer comentário a respeito, vejo com preocupação extrema como estamos vulneráveis a ataques de hackers pelo nosso sistema de telefonia celular. As operadoras também precisam vir a público para explicar as falhas que, aparentemente, não nos garantem o sigilo e a devida proteção de dados. A pergunta que não quer calar é, se até presidente da República, ministros do STF e juízes são vítimas de interceptações, o que pode esperar o cidadão comum em termos do direito ao sigilo e privacidade?


Walter Delgatti Neto, conhecido como Vermelho, tem antecedentes à altura de sua ação nefasta, tendo sido até preso por falsidade ideológica e tráfico de drogas. Já se sabe que ele é a fonte das matérias publicadas com os pretensos diálogos entre Moro e a Força Tarefa da Lava Jato, tudo com a ajuda da candidata a vice na chapa de Fernando Haddad, a militante de esquerda Manuela D’ Ávila; e, diga-se, sem nenhuma contrapartida financeira, como admitiu o hacker. Confesso o meu completo ceticismo acerca desta última informação. Manuela já anunciou que falará à PF sobre como se deu essa “colaboração”, consistente na aproximação do criminoso de Greenwald, para publicar a série de conversas privadas


Espero, como jurista e cidadão, a continuidade das investigações pela Polícia Federal, instituição com sólida reputação junto à opinião pública, para que a sociedade tenha amplo conhecimento do que, de fato, ocorreu nessa sórdida invasão e ataque aos poderes constituídos, a configurar grave ameaça ao estado democrático e de direito. Fontes da PF garantem que o esclarecimento do caso é visto, nos bastidores da corporação, como fundamental para o restabelecimento da verdade e sensação de normalidade institucional do país.


Seja como for, preocupa que, por questões eminentemente ideológicas, se estabeleceu no país uma polarização extrema, geradora de embates nas redes sociais e, em parte, na mídia, secundados por lideranças políticas que buscam o enfraquecimento da democracia, justamente porque, na certa, serão alcançadas pela Justiça. Querem mais ainda: a destruição da Lava Jato, para forçar a libertação do presidiário Lula, uma aspiração cada vez mais improvável.


Uma coisa é certa, em breve, a PF reunirá elementos para completar o quebra-cabeça, indiciando todos os envolvidos, com a revelação de suas motivações. É mera questão de tempo.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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