O risco que passou despercebido

Caso de jornalista atacada, nas proximidades do túnel do VLT, levanta problema do crescimento exponencial da população de rua em Santos

Por: Ivan Sartori  -  22/01/20  -  21:45
  Foto: Alberto Marques/AT

O lamentável episódio da jornalista atacada por um ex-presidiário no entorno do túnel do VLT, no Marapé, em Santos, colocou nos holofotes da mídia a sensação de insegurança que acomete os moradores da região, trazendo à tona, uma vez mais, o problema do crescimento exponencial da população de rua nos logradouros de nossa cidade.


Volto ao tema, já abordado neste espaço editorial, reiterando minha admiração por todos aqueles que, por pura filantropia, tentam minimizar o sofrimento destas pessoas em situação de dependência química em alto grau e que estão vivendo ao relento por problemas de toda sorte, sejam de ordem familiar, sejam de saúde, sejam de ordem econômica.


Não há dúvida de que esses desafortunados merecem toda nossa atenção e respeito. Porém, por trás do sofrimento de muitos, principalmente dos que estão num estado avançado de dependência do álcool e das drogas, encontram-se pessoas de péssima índole e até criminosos, como se viu no caso da jornalista que teve três dedos decepados, ao se defender de uma tentativa de estupro.


Obviamente, que, aí, se trata de caso de polícia, cabendo força policial, para proteção do cidadão de bem. O que dizer, então, do traficante que oportuniza a miséria desses grupos.


Há que se conter, inclusive, os distúrbios e a perturbação do sossego da coletividade que paga seus impostos.


Evidente que a esfera estadual não pode ficar isenta desta reponsabilidade, como pontuado acima. Entretanto, o Poder Público municipal, não obstante as rondas diárias da Guarda Municipal, aliadas às abordagens sociais frequentes, claramente, ainda não conseguiu apresentar uma solução razoável, já que, a olhos vistos, a problemática só cresce. Não só em torno do túnel, mas também nos jardins da praia, praças, pontos turísticos, rodoviária e em boa parte dos bairros da cidade.


Reitero que é preciso classificar essa população, que não é homogênea. Há aqueles que moram na rua porque perderam o emprego e não tem alternativa; aqueles que foram abandonados pela família e que talvez queiram resgatar a convivência familiar. São casos mais simples, em que a oferta de abrigos municipais e o recâmbio, entre outras ações, podem resolver, embora muitos ainda resistam ao cumprimento de regras e prefiram permanecer onde estão.


Há também aqueles que vivem nas ruas porque já estão nessa situação há muitos anos e não mais conseguem uma vida diferente, principalmente os usuários de drogas, que são os casos mais complicados.


Os dependentes químicos, já inteiramente dominados pelo vício, também cometem delitos e podem ameaçar a integridade de inocentes, quando acometidos de síndrome de abstinência poderosa, como ocorre na falta do crack, segundo especialistas. Por sinal, as ocorrências de furtos de portões de residências e outros itens já são frequentes nos registros policiais.


A situação desses drogaditos reclama internação compulsória, como permite lei do ano passado (13.840), o que representaria contribuição para a mitigação do problema em si.


Viria bem, como já externei, uma força-tarefa específica itinerante e permanente, envolvendo assistentes sociais, sociedade civil, psicólogos, o próprio Judiciário, a Promotoria local, forças policiais, com o fim de minimizar a situação de fato. Há que haver, inclusive, o controle de quem, sem condições de se manter, ingressa na cidade, quando se verificaria, também, se o abordado nada deve à Justiça.


Os censos realizados pela Prefeitura parecem não ter fornecido o retrato real e as dimensões do problema do aumento da população de rua, tanto que passou despercebido sério risco à coletividade, como visto no vil ataque contra uma mulher indefesa, que poderia muito bem ser alguém de nossa família. Isso torna patente que há gente perigosa que se esconde entre os necessitados e que precisa ser localizada e presa.


Como expus em meados do ano passado, aqui na coluna, não dá para resolver um problema tão complexo sem considerar todas suas nuances e características. Avançamos muito pouco nesse sentido. Já passou da hora de serem apresentados resultados concretos em defesa dos munícipes. Mas, antes, é preciso separar o joio do trigo.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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