Carnatole: Erro de avaliação e desfecho previsível

É bom lembrar que o regulamento do Carnabanda deste ano institui limite de apresentações diárias e proibição do uso de vias de grande circulação

Por: Ivan Sartori  -  30/01/20  -  20:30
Policiais em ação durante apresentação de banda de Carnaval no Gonzaga
Policiais em ação durante apresentação de banda de Carnaval no Gonzaga   Foto: Reprodução

O tumulto ocorrido durante evento da banda Carnatole, na Rua Tolentino Filgueiras, no Gonzaga, após arrastão, sucessivos ataques aos carros e transeuntes, lançou holofotes para fatores que cercam a permissão de eventos públicos como o Carnabanda, que, não raro, acabam sendo palco para ações criminosas como a referida.


É certa a importância do carnaval como manifestação popular artística e legítima. Mas, seja o período pré-carnavalesco, que inclui o desfile das bandas, sejam as atividades durante o próprio carnaval merecem atenção especial do Poder Público, como fomentador e apoiador logístico. Daí ser indispensável o desejado uso racional dos recursos públicos.


Reconheço que a Secretaria Municipal de Cultura até foi feliz ao propor regras para o Carnabanda e cobrar o observância delas pelas agremiações, com possibilidade de punir bandas que provocam tumultos, as quais ficam impedidas de desfilar no ano seguinte.


Apesar disso, por tudo que foi amplamente veiculado na mídia e nas redes sociais, no caso da Carnatole, fica a impressão de que falta logística nessa área.


Muito embora a responsabilidade civil dos organizadores das bandas carnavalescas esteja prevista no regulamento, assim como a obrigatoriedade de contratação de empresa de segurança, de acordo com o número de participantes, tem-se que, no caso, isso, por certo, não ocorreu.


Como sempre, coube à gloriosa Polícia Militar, criticada por desinformados e mal intencionados, a missão de debelar a ação criminosa. Com disparos de armas não letais, a corporação prendeu sete marginais envolvidos na ação criminosa, embora testemunhas estimassem um bando de cerca de 40 delinquentes.


O atual estágio da violência urbana e social no país exige que qualquer evento de rua deva ser precedido de uma avaliação minuciosa, com previsão de todos os riscos inerentes. No episódio, isso foi negligenciado.


É bom lembrar que o regulamento do Carnabanda deste ano institui limite de apresentações diárias e proibição do uso de vias de grande circulação.


Portanto, a permissão envolvendo a Tolentino Filgueiras, que se transformou em polo gastronômico e da vida noturna da cidade, inclusive por lei municipal, atraindo investimentos e gerando empregos, foi fruto de um erro de avaliação.


Por conseguinte, o resultado observado expõe uma escalada de equívocos, de enredo final previsível. Em vez de uma festa popular, viram-se cenas de guerra, com depredações e riscos sérios para as pessoas de bem.


De todo modo, depois, prevaleceu o bom senso, optando-se pela suspensão temporária dos desfiles, com o fim de serem revistos os protocolos de segurança.


A nova ideia inicial é de concentrar o Carnabanda em local único, para otimizar a segurança.


Todavia, parece simplista a solução de transferir todos os desfiles para a Passarela Dráuzio da Cruz, em prejuízo das bandas que cumprem à risca o regulamento, inclusive na contratação de seguranças.


Há, aliás, resistência popular em relação a isso, pois o lugar não é convidativo.


É preciso que a municipalidade cumpra seu papel e verifique a logística de cada apresentação, fazendo valer o direito do povo santista de aproveitar o carnaval em sua plenitude, com a segurança que o cidadão faz jus, diante dos altos impostos que pesam em seus orçamentos.


Afinal, é assim em tantas e tantas outras cidades de porte até maior. Por que não pode ser assim aqui?


Será que perdemos o controle do município, já tão negligenciado na zeladoria, saúde e preservação do bem estar do munícipe?


Resta-nos aguardar os próximos capítulos...


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter