Nova poligonal: mais área e empregos. Mas, de que tipo?

Carvalho é especialista em Gestão de Pessoas e em Estratégia Organizacional

Por: Hudson Carvalho  -  04/03/22  -  10:38
  Foto: Matheus Tagé/AT

O ano de 2022 estava começando quando o Ministério da Infraestrutura (Minfra), em sua Portaria 66, tomou a importante decisão de ampliar os limites jurisdicionais do Porto Organizado de Santos. Na prática, trata-se de ampliar a área da poligonal do Porto dos atuais 8 km2 para 15,5 km2. Quase o dobro! Embora o aumento da área, por si só seja expressivo, uma análise simplista diria que trata-se apenas disso: área.


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Mas o olhar um pouco mais treinado diria que a ampliação da atual área, vigente desde 2020, agrega valor ao processo de desestatização que deve acontecer no segundo semestre deste ano. Também é verdade. Agregar novos espaços a um porto que já conta com 95% das áreas operacionais ocupadas, abre perspectivas de crescimento para os próximos 40 anos.


Se quantitativamente é bom, qualitativamente é ainda melhor, pois a maior parte da área ampliada (6 km2) está no fundo do Canal de Navegação, na Ilha de Bagres e Largo do Canéu, apropriadas para a instalação de empreendimentos típicos da atividade portuária em si. Quantidade de área, com qualidade e aumento do valor agregado, são fatores muito positivos, mas o que realmente pode causar o grande impacto sob o ponto de vista da geração de empregos se traduz na expressão Porto-Indústria.


Esse conceito, se aplicado no futuro, tem enorme potencial de geração de empregos. Simplificando-o, nada mais é do que colocar lado a lado atividades industriais e portuárias, algo que faz sentido pelo ganho de movimentação logística que pode ser conseguido. Em outras palavras, as indústrias instaladas em áreas portuárias recebem matéria-prima diretamente dos navios, transformam a partir de seus processos de manufatura e enviam diretamente para os navios próximos. Importação-transformação-exportação. Tudo num só lugar.


Já há boas iniciativas de projetos similares, como acontece no Complexo Industrial Portuário de Suape, próximo a Recife (PE), por exemplo. Aqui, muito próximo ao nosso Porto de Santos, a Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra) possui uma experiência interessante: um laboratório que simula a atividade de um porto industrial. O exercício mostra como recintos alfandegados podem operar como pequenas indústrias, unindo peças importadas e nacionais e transformando-as em produtos que teriam como destino o mercado de exportação. Exitosa, vai ajudar a demonstrar na prática a toda a cadeia logística envolvida e às autoridades a validade do conceito.


Quando falamos em indústria, é automático pensar nas linhas de produção e nos diversos postos de trabalho ao seu redor. Não são apenas eles que passarão a existir quando e se viermos a implantar esse conceito. A implantação das plantas fabris, mesmo as de pequeno porte, demandam projetos, construção, equipamentos, manutenção, planejamento ambiental, energia, serviços de alimentação, segurança patrimonial e transporte, entre tantos outros itens que envolvem o funcionamento dos negócios. Percebe até onde pode-se projetar a geração de novos empregos?


O primeiro passo foi dado: a ampliação da área do porto organizado teoricamente nos permite sonhar com um futuro em que indústrias e porto convivam. Outros precisam ser dados. Os governos municipais devem estar atentos (há muito o que fazer para integrar as cidades a um projeto como esse), assim como universidades e escolas técnicas precisam ampliar sua visão de formação da mão de obra. Para citar o mínimo. A sociedade como um todo precisa abraçar essa ideia. Conseguiremos tornar realidade?


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