Negócios “sustentáveis” vão mudar algo em minha vida?

Até 2025, os projetos ESG estarão presentes em cerca de um terço do mercado internacional, neles incluídos os portos

Por: Hudson Carvalho  -  29/04/22  -  06:35
Adotar o ESG não é só uma questão ideológica, mas de sobrevivência para as empresas
Adotar o ESG não é só uma questão ideológica, mas de sobrevivência para as empresas   Foto: Imagem Ilustrativa/Pixabay

“Um homem sempre tem duas razões para fazer qualquer coisa: uma boa razão e a verdadeira razão".
J.P. Morgan, banqueiro e industrial norte-americano, cujas ações dominaram o mundo corporativo de seu tempo


Não quero discutir aqui se são boas ou verdadeiras as razões pelas quais as organizações têm incluído ações de desenvolvimento sustentável em seus projetos futuros e na gestão atual. Gostaria que fosse pelo desejo de tornar o planeta e o mundo dos negócios mais adequado ao que as pessoas necessitam e anseiam, em vez de uma simples imposição dos mercados em que atuam. Sejam quais forem as razões, torço que não seja um simples modismo que torne passageiras considerações absolutamente importantes, como proteção ambiental, ação social e governança corporativa.


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Percebam que estou estendendo o conceito de desenvolvimento sustentável o suficiente para que nele caibam os três pontos dos chamados projetos ESG, sigla relacionada aos termos originais em inglês Environmental, Social e Governance, ou em bom português, Meio Ambiente, Social e Governança Corporativa (explicando essa última, talvez não tão conhecida como as duas primeiras, trata-se do conjunto de regras adotadas por uma empresa visando garantir que sua gestão siga todas as regras, a legislação e as boas práticas do mercado em que atua).


Mas, vamos voltar à pergunta inicial: o que o desenvolvimento sustentável tem a ver com o meu dia a dia de trabalho? Mais ainda: os portos brasileiros já estão adotando essas práticas? Sim e muito. Estima-se que, até 2025, os projetos ESG estejam presentes em cerca de um terço do mercado internacional, neles incluídos os portos. Vou justificar, usando não as minhas, mas as palavras do diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Eduardo Nery, quando afirma que adotar o ESG não é só uma questão ideológica, mas de sobrevivência para as empresas.


Ele acrescenta que o mundo corporativo e os fundos de investimento não querem associar seus recursos a empresas que não tenham comprometimento com regras de inclusão social, causas ambientais e de compliance (sinônimo de governança). Traduzindo para o nosso dia a dia, as empresas portuárias e marítimas vão trabalhar fortemente na redução do uso de energia, trocando as que têm base em carbono (como aquelas derivadas do petróleo, que poluem, pela eletricidade), racionalizar o uso de recursos (água mais do que tudo), cuidar com mais atenção das necessidades de seus próprios colaboradores e das populações do entorno de suas unidades e montar um sistema de gerenciamento que garanta que tudo isso funcione.


Sendo assim, na prática, deverão ser criados postos de trabalho nas áreas de manutenção com foco na transformação de equipamentos movidos por motores elétricos, etanol etc. Haverá boas oportunidades também para os profissionais que se especializarem em regeneração e conservação de energia. Nas áreas de compras e suprimentos, devem ser abertas oportunidades para profissionais capazes de negociar nesses mercados. O setor de Meio Ambiente tem bom potencial de gerar novos postos, porém é importante ficar atento, pois esses postos de trabalho fugirão do clássico perfil de gestor de programas ambientais. O novo perfil vai incluir um olhar que associe o “ambiental”, alinhado às necessidades estratégicas do negócio e como cada uma das ações é percebida pela sociedade.


Os profissionais de segurança do trabalho e saúde ocupacional – que hoje já influenciam aspectos fundamentais da gestão de pessoas como a motivação e a retenção – devem incluir no conjunto de suas competências os cuidados com a saúde emocional das equipes. Profissionais das áreas de comunicação, marketing e institucional vão precisar redobrar cuidados com a imagem de suas corporações e como ela é percebida pela comunidade. Portos têm intensa relação com as cidades onde estão instalados. Podemos esperar que esse relacionamento se intensifique em termos qualitativos e quantitativos.


Sem a pretensão de esgotar as possibilidades nas demais áreas das empresas, pois as possibilidades são imensas, a direção, a alta gestão e os conselhos precisarão estender seu olhar para além dos resultados financeiros e operacionais. Muda o mundo, muda mais ainda o mundo do trabalho. Se queremos permanecer nele, precisamos estar atentos.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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