Visões da realidade

A oscilação do PIB interessa ao cidadão menos pelos índices do que pela distribuição das riquezas produzidas

Por: Da Redação  -  05/03/21  -  11:05

É claramente negativo que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha sofrido o terceiro pior tombo de sua história, retraindo-se em 4,1% no ano passado. Do contrário, em nível estadual, traz alento o registro de que a produção de riquezas em São Paulo cresceu 0,4%, a despeito dos reflexos da pandemia.


Nos dois casos, é preciso avaliar o significado desses índices para o bem-estar da população. Cubatão é um exemplo: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2018, a Cidade detinha PIB de R$ 101,6 mil por habitante, o triplo da média nacional. Era o melhor resultado da Baixada Santista e o 74o entre as 5.570 cidades do País.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Em Cubatão, entretanto, 37% dos domicílios apresentavam rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, o pior nível da região. Também do IBGE, são números de 2010, desatualizados. Ainda assim, consideráveis, pois nos anos seguintes o emprego na Indústria, base da economia e da receita tributária local, declinou.


Dos setores que compõem o PIB nacional, o único a apresentar alta foi o agropecuário: 2%. Com dólar em alta, parte da produção foi para o exterior. E, conforme levantamento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), 2020 foi o ano em que o feijão subiu 35,4%; as carnes bovinas, até 28%; o frango, 15,9%, o arroz, 83,7%.


De forma alguma se diz que o crescimento do País faz mal ao povo. O que se apresenta é a necessidade de melhor distribuição de renda e condições de sobrevivência. A disparidade entre produção de riqueza e as dificuldades do cidadão tem de estimular os governos a agir.


Um investimento direto será a retomada do Auxílio Emergencial, mesmo que em valores inferiores aos do ano passado e corroídos pela remarcação contínua de preços nas prateleiras dos supermercados. Será um respiro a quem nada tem — e se deseja que o Governo puna duramente os enganadores que se passam por pobres e pedem ajuda. 


De modo indireto, a vacinação massiva da população, com a menor demora possível, terá como restaurar a economia. A imunização, como já se afirmou exaustivamente, reduzirá a incidência de transmissão da covid-19, a gravidade da moléstia nos que se contaminarem e o volume de internações na rede hospitalar, sobretudo em UTIs.


Ao se diminuírem os gastos com saúde decorrentes do tratamento do coronavírus, ficará menos difícil e custoso obter verba para o início da reconstrução socioeconômica do País. A produtividade geral aumentará, com a redução de faltas ao trabalho por motivo de doença. O Brasil tenderá a enriquecer. Por ora, expectativas positivas.


Esperança à parte, lamenta-se que, em vez de ter atitudes decentes perante a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro se preocupe em clamar pelo fim de “frescura e mimimi. Vão ficar chorando até quando?”. Talvez o fato de não gastar nada do próprio bolso com moradia, comida, viagens e lazer tenha bloqueado sua visão da realidade.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter