Vítimas da Covid-19

As mortes também aumentam todos os dias, e os dados do Ministério da Saúde mostram que a doença é mais letal entre pretos e pardos

Por: Da Redação  -  14/04/20  -  10:39
Atualizado em 14/04/20 - 10:42

A quantidade de casos confirmados de Covid-19 no Brasil cresce, com mais de 20.000 pacientes infectados pelo vírus, número que deve ser muito maior, tendo em vista a baixa realização de testes. As mortes também aumentam todos os dias, e os dados do Ministério da Saúde mostram que a doença é mais letal entre pretos e pardos: eles representam 23,1% dos hospitalizados com síndrome respiratória aguda grave, mas chegam a 32,8% dos óbitos, enquanto os brancos, que são 73,9% dos internados, somam 64,5% entre os mortos.


A diferença pode ser ainda maior, uma vez que 32% daqueles que faleceram não tiveram a cor ou raça registrada. Como não há evidência científica de maior gravidade da doença entre os negros, fica evidente que os números refletem a desigualdade social. Negros enfrentam muito mais dificuldades econômicas para sobreviver, e são a maioria dos pacientes com diabetes, tuberculose, hipertensão e doenças renais crônicas, muitos sem tratamento adequado, e assim tornam-se muito mais vulneráveis às complicações da doença.


Especialistas se preocupam sobre o impacto da covid-19 nas populações mais pobres. A pandemia atingiu inicialmente a parcela com condições mais favoráveis - pessoas brancas, com maior renda e acesso a planos privados de saúde - mas avança entre os mais desassistidos, entre os quais estão os negros, com péssimas condições de vida e comorbidades associadas a questões sociais, como falta de saneamento básico, moradias precárias e alimentação inadequada.


Esse fenômeno está acontecendo nos EUA. Lá, a covid-19 está matando negros em taxas mais elevadas do que na população em geral, e a explicação está nas disparidades do acesso a cuidados e atendimento de saúde, situação que se repete no Brasil.


Os idosos também são o alvo preferencial da doença. Até aqui, 77% dos mortos no País tinham mais de 60 anos, e 74% deles apresentavam pelo menos um fator de risco, destacando-se cardiopatias e diabetes. O desafio é ainda maior, portanto, nas cidades que concentram populações mais velhas, como é o caso de Santos. Dados da FGV Social mostram que a cidade tem 15,7% de seus habitantes acima de 65 anos, o mais alto índice de São Paulo, muito acima da média estadual, que é de 11,9%. Na capital, a taxa é ainda menor (9,2%), o mesmo acontecendo com outros grandes municípios, como Campinas (9,4%) ou São José dos Campos (7,2%).


Embora, de maneira geral, os idosos tenham condições mais favoráveis de renda (no País, eles são 17,5% entre os 5% mais ricos e apenas 1,7% entre os 5% mais pobres), e estejam em menor número em habitações precárias, como favelas, sua maior vulnerabilidade preocupa e exige atenção redobrada das autoridades, como é o caso do município de Santos, onde o isolamento social precisa ser mantido com maior vigor e atenção. 


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