Uma advertência existencial

Os casos de reinfecção identificados na Baixada Santos, que carecem de consenso entre infectologistas, se confirmados, surgem como um novo desafio

Por: Da Redação  -  25/10/20  -  10:06

Que o novo coronavírus provocou uma revolução em níveis estratosféricos não é novidade alguma. Continua a espantar a comunidade científica, e a sociedade de forma geral, com seus desdobramentos inéditos. Nem é preciso muito esforço para lembrar como o vírus e sua doença, a covid-19, afetaram cada um, de alguma forma. Seja pelas restrições, isolamentos, novos hábitos, e fundamentalmente, pelas milhares de mortes consequentes.


Os casos de reinfecção identificados na Baixada Santos, que carecem de consenso entre infectologistas, se confirmados, surgem como um novo desafio. Já haviam intrigado as ciências médicas em outras partes do mundo, que se debruçam em decifrar códigos genéticos e influências no corpo humano após uma segunda presença do vírus e suas manifestações.


Como é natural em processos novíssimos, a ciência amplia seus estudos num esforço que o globalismo, agora menos preocupado com os ganhos econômicos, puro e simples, impõe como agenda positiva num cenário ainda obscuro. Descartam-se, pois, as teorias conspiratórias e negacionistas para dar vazão a um enfrentamento mais racional, e digamos, mais humano.


Não estamos, afinal, numa disputa de hegemonias. O sentido que se produziu nos primeiros meses do ano, qual seja o da solidariedade e do colaboracionismo entre os povos, deve prevalecer em termos mundiais, descartando-se, assim, a guerra de egos e a vaidade perniciosa entre as comunidades científicas transnacionais.


É evidente que, independentemente da urgência sanitária que o mundo vive, o açodamento e a pressa são inimigos do bom senso. Mas é por isso que as vacinas, tão aguardadas, vêm sendo produzidas, com testes em etapas e acurada avaliação por órgãos renomados. É assim que deve ser: uma comunhão de esforços conduzidos por laboratórios com a expertise necessária para se chegar a bom termo, qual seja, a de um medicamento realmente eficaz.


O ano de 2020 se inscreve na história com verniz peculiar, algo que parecia mais sintonizado com guerras, êxodos, fome e embates econômicos, todos localizados, nem por isso, menos dramáticos. Tentou-se, ou ao menos, se debateu sobre estratégias: contaminação de rebanho, isolamentos radicais, distanciamentos, com as inevitáveis consequências de uma ou outra decisão. Faz parte quando se lida com fenômenos desconhecidos, particularmente no campo da saúde.


Como muito bem pontuou o sociólogo português, Boaventura de Sousa Santos, “a pandemia de covid-19 é a forma com que nosso planeta está dizendo que basta”. Qual a lição que vamos tirar desse episódico momento da humanidade, ele mesmo não sabe a resposta. Porém, por mais dramático que seja, há sempre um aprendizado. Ou muitos, que inescapavelmente teremos que assimilar, como uma espécie de advertência existencial.


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