Troca de ministros na pandemia

Não houve surpresa na demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta

Por: Da Redação  -  18/04/20  -  14:11

Não houve surpresa na demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A trajetória de confronto público e aberto com o presidente Jair Bolsonaro vinha se arrastando há semanas, com a defesa do ministro do isolamento social que contrastava com sucessivas declarações do chefe do Executivo favoráveis à retomada das atividades econômicas e reabertura gradual do comércio.


Outra questão que colocou presidente e ministro em campos opostos foi o uso da cloroquina, defendida por Bolsonaro, mas que não recebeu apoio de Mandetta, tendo em vista a não comprovação científica de sua eficácia até agora.


A crise se aprofundou no fim da última semana: no sábado, o ministro, constrangido, acompanhou o presidente em visita a um hospital de campanha em construção em Goiás, ocasião em que Bolsonaro, contrariando todas as recomendações, não hesitou em cumprimentar e ter contato físico com manifestantes. No dia seguinte, veio a gota d´água: a entrevista de Mandetta ao programa Fantástico, reafirmando suas posições e contrariando abertamente o presidente.  


A grande pergunta que se faz agora é sobre o rumo das políticas de enfrentamento à pandemia da Covid-19. A escolha do novo ministro, o oncologista Nelson Teich, afastou especulações de mudanças radicais: ao contrário, ele, ao ser anunciado oficialmente para o cargo, foi comedido, descartando definições bruscas sobre a atual quarentena, embora tenha afirmado que em sua gestão não haverá competição entre economia e saúde, em clara sinalização de alinhamento ao que defende Bolsonaro.  


O anúncio da troca de ministros mostrou um presidente também contido, que alguns interpretaram como seu reconhecimento da realidade. Em tom tenso, reiterou sua defesa da economia em tempos de crise, mas insistiu várias vezes que está preocupado com a saúde do povo e com a manutenção da vida, e admitiu que a volta à normalidade nas cidades não ocorrerá tão rapidamente.


Ainda assim, não perdeu a oportunidade de criticar governadores e o Congresso, chegando a exageros como fazer referências a estado de sítio, ainda que para dizer que ele não seria usado. Mais grave ainda foi a entrevista dada à CNN Brasil logo após, em que acusou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de conspirar para tirá-lo do Palácio do Planalto, e que ele estaria "conduzindo o país para o caos", resumindo: " péssima a sua atuação".


O balanço inicial da troca de ministros indica que não haverá alterações substanciais imediatas nas políticas e ações sobre a Covid-19. Mandetta sai fortalecido, com grande aprovação popular por sua ação na pandemia, e deixa um trabalho organizado que deverá ter continuidade. Dúvidas persistem, porém, sobre a inevitável cobrança que o presidente fará nos próximos dias e semanas sobre Nelson Teich e sua equipe.


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