Troca de generais

Santos Cruz foi substituído pelo general Luiz Eduardo Ramos Pereira para ocupar a liderança da Secretaria de Governo

Por: Da Redação  -  15/06/19  -  18:01

A demissão do general Carlos Alberto dos Santos Cruz da Secretaria de Governo pode ser vista como um ato administrativo normal em qualquer governo. O presidente da República tem a prerrogativa de nomear e destituir seus ministros, com decisões baseadas em critérios pessoais, que envolvem desempenho e adequação ao cargo. Tudo leva a crer, porém, que a saída do general Santos Cruz envolve outros fatores, que caracterizam disputas de poder e divergências entre os vários grupos que compõem o atual governo.


É reconhecida a existência de três núcleos em torno da Presidência. Um deles, de perfil técnico, representado principalmente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, parece firme e inabalável. As recentes denúncias de vazamentos de conversas de Moro com procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato não o atingiram, e ele recebeu apoio incondicional do presidente Jair Bolsonaro e de vários setores do governo, incluindo parlamentares de sua base de apoio.


Os conflitos envolvem os dois outros grupos: de um lado, os militares, que têm força e prestígio junto ao presidente e vêm conquistando e mantendo respeito e apoio da população de maneira bastante ampla, e outro, o chamado núcleo ideológico, que reúne ministros como Ricardo Salles, do Meio Ambiente, Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e o chanceler Ernesto Araújo, pairando sobre ele a forte influência do escritor Olavo de Carvalho e dos filhos do presidente.


Atribui-se a estes setores a saída de Santos Cruz. Desde que assumiu o cargo, em janeiro, ele envolveu-se em seguidas crises com Carvalho e com o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), principal estrategista do presidente nas redes sociais. Um dos principais pontos de conflito era a comunicação do Palácio do Planalto, envolvendo o responsável pela área, Fábio Wajngarten, com o qual Cruz tinha relação distante, e discordâncias sobre as estratégias por ele desenvolvidas. O ponto de maior discordância estaria ligado aos investimentos em campanha publicitária sobre a reforma da Previdência, que o agora ex-ministro se opunha.


Recentemente, em entrevista, Santos Cruz afirmou que é preciso ter cuidado com a utilização das redes sociais, evitando ataques e seu uso como “arma de discórdia”, fato que provocou reação imediata de Carlos Bolsonaro e as tradicionais declarações agressivas, com o uso de palavrões, de Olavo de Carvalho.


Santos Cruz, que goza de excelente reputação entre os militares, com carreira destacada e reconhecida, foi substituído por outro general, Luiz Eduardo Ramos Pereira, atual comandante do Sudeste (São Paulo), e muito próximo do presidente. Mantém-se a presença militar na equipe de governo, mas preocupa que não tenha prevalecido a posição técnica e equilibrada do ex-titular do cargo.


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