Tragédias anunciadas

A regra no País é atentar para essas calamidades apenas quando elas acontecem e deixam rastros de destruição

Por: Da Redação  -  18/08/20  -  11:00

Os tornados que deixaram rastro de destruição em Santa Catarina no final de semana, um mês e meio depois do chamado ciclone bomba, que matou nove pessoas também na Região Sul, sinalizam que o País necessita mais atenção à prevenção de catástrofes. Diferentemente de outros países que sofrem com terremotos e furacões, os brasileiros podiam se considerar privilegiados em relação ao impacto de fenômenos naturais – apesar da clara displicência das cidades com enchentes. Entretanto, cresce o coro dos cientistas e, já há evidências para isso, de que as mudanças climáticas tendem a ampliar os registros de transtornos. São chuvas fortíssimas que resultam em transbordamento de rios ou tempestades de granizo que causam prejuízos em milhares de residência de uma mesma região. Ou mesmo tornados ou ciclones que os mais velhos antes não escutavam falar no Brasil.


A Baixada Santista também está nessa rota de fenômenos, como foi o caso de 3 de março, com queda das encostas e 45 mortes. Conforme A Tribuna publicou ontem, até agora, cinco meses depois, ainda há famílias de Guarujá na fila da locação social, benefício que garante R$ 3,7 mil ao longo de 12 meses para resolver o problema de teto dos desabrigados.


Assim como é ineficiente no amparo às vítimas, o País também tem uma séria dificuldade de adotar modelos de prevenção. Os aplicativos já disparam alertas da Defesa Civil e há forças treinadas, como as dos Bombeiros, que ficam de prontidão, mas além de melhorar os investimentos em equipamentos é necessário informar a população – e não só as de área de risco – sobre o que fazer nos momentos de chuvas intensas, entre outros fenômenos climáticos.


Por exemplo, no sábado, o único morto resultante do temporal em Santa Catarina saiu para um passeio de caiaque no litoral daquele estado, foi surpreendido pela tempestade e se afogou. A população precisa ficar atenta aos alertas e obedecê-los. De nada adianta a tecnologia se não há conscientização.


É necessário também contar com uma importante retaguarda solidária para fornecer primeiros socorros e mantimentos, como comida, água, roupas e lonas para cobrir as casas. Sempre há gente disposta a ajudar, mas esse socorro precisa ser otimizado para melhorar os resultados.


Durante pelo menos duas décadas, o programa de combate a deslizamentos nas encostas de Santos costumava ser citado por autoridades de outras regiões como exemplo, até que ocorreu a tragédia de março. É inegável que tais problemas registrados aqui e que se repetem nos morros das regiões mais densamente povoadas no País são resultado de falta de investimento em habitação e desleixo com o meio ambiente. Porém, é fundamental agir antes, cobrando agora respostas das autoridades. Infelizmente, a regra no País é atentar para essas calamidades apenas quando elas acontecem e deixam seus rastros de destruição.


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