Trabalho no lar

Em 2018, as mulheres dedicaram 21,3 horas semanais, em média, a afazeres domésticos e cuidados de pessoas, enquanto os homens gastaram apenas 10,9 horas

Por: Da Redação  -  02/05/19  -  13:11

A terceira versão da pesquisa "Outras Formas de Trabalho", relativa a 2018, foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e revelou que as mulheres dedicam o dobro do tempo que os homens aos afazeres domésticos e aos cuidados com outras pessoas do lar. Quando são analisados os dados de 2016 e 2017, nota-se que não houve grandes mudanças, demonstrando que há um problema cultural no País. Homens participam em menor grau das tarefas domésticas, confiadas quase sempre às mulheres.


Em 2018, as mulheres dedicaram 21,3 horas semanais, em média, a afazeres domésticos e cuidados de pessoas, enquanto os homens gastaram apenas 10,9 horas. Note-se que, em 2017, o quadro era praticamente o mesmo: 20,9 horas para mulheres e 10,8 horas para homens. Outro ponto importante é que essa desproporção se repete também quando são consideradas as pessoas ocupadas, ou seja, aquelas que têm algum emprego ou trabalho informal. As mulheres dedicam 18,5 horas semanais, e os homens apenas 10,8 horas, revelando que elas têm seu tempo limitado para o trabalho remunerado.


Note-se ainda que nem mesmo a crise econômica, que obrigou famílias a dispensarem empregadas domésticas nos últimos anos, fez com que os homens assumissem mais tarefas no lar. Houve pequeno movimento nesse sentido entre 2016 e 2017, mas que desapareceu praticamente em 2018. A última pesquisa revelou ainda que 92,2% das mulheres disseram ter dedicado algum tempo aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, contra 80,4% do sexo masculino.


Esses números podem ser, entretanto, enganosos, uma vez que não levam em conta a quantidade e volume de tarefas desempenhadas por homens e mulheres. Enquanto 90,9% delas cuidam da limpeza e da manutenção de roupas e sapatos, esse número cai para 54% entre eles. No caso de preparar e servir alimentos, arrumar a mesa ou lavar a louça (a pergunta juntou várias tarefas que normalmente não têm divisão equitativa, ressalte-se), 95,5% das mulheres disseram realizá-las e 60,8% dos homens.


A pesquisa não aborda a relação e cuidado com filhos, outra tarefa que é prioritariamente desempenhada pelas mães, que traz a elas, além do trabalho físico, maior comprometimento emocional. A conclusão é a exploração feminina em âmbito doméstico: elas acabam tendo jornada de trabalho superior à dos homens em três horas semanais, em média.


A mudança no comportamento é difícil. Reflete a formação cultural que sempre privilegiou os homens e confiou às mulheres as tarefas domésticas. Isso é, porém, injusto, disfuncional do ponto de vista econômico e incompatível com os tempos modernos. A igualdade no lar é direito das mulheres e obrigação a ser buscada pela sociedade moderna. É desafio a ser vencido ainda nessa geração, que deve dedicar prioridade a ele.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter