Trabalho e saúde

Estudo realizado notou que, dentro ou fora do mercado formal, os impactos da relação com o trabalho para a saúde mental dos brasileiros vêm se deteriorando em todos os níveis de ocupação

Por: Da Redação  -  17/11/19  -  13:39

Pesquisa realizada por consultoria especializada em cultura organizacional de empresas revelou quadro preocupante em relação às consequências do trabalho (ou da falta dele) para a saúde das pessoas. O trabalho é, sem dúvida, decisivo para a construção de identidades e reforço da personalidade individual.


Ele não garante apenas a renda necessária para as pessoas, uma que vez o exercício regular de atividades profissionais, em qualquer área, constitui fator básico para a autoestima necessária para o equilíbrio cotidiano.


Não surpreende, portanto, que o desemprego represente autêntica tragédia na vida daqueles que vivem tal situação, principalmente se ela se prolonga por longo período. O estudo realizado notou, entretanto, que dentro ou fora do mercado formal, os impactos da relação com o trabalho para a saúde mental dos brasileiros vêm se deteriorando em todos os níveis de ocupação.


O rol de distúrbios é amplo, compreendendo ansiedade, depressão, insônia, síndrome do pânico, burnout, uso frequente (e por vezes abusivo) de remédios controlados, álcool e drogas ilícitas. A crise econômica recente agravou o quadro – muitos perderam seus empregos ou tiveram perdas substanciais na renda mensal, principalmente os que foram forçados à informalidade – mas há quadro generalizado de preocupação e estresse em relação a exigências e metas a cumprir nos respectivos empregos.


Para 78% dos entrevistados na pesquisa, o trabalho contribuiu ou contribui para o seu adoecimento. Entre as mulheres negras, esse percentual é ainda maior: 85%. Numa escala de 1 a 10 para a concordância que o trabalho ou falta dele contribuem ou contribuíram para o surgimento de doenças e sofrimento psíquico, em que 1 representa nenhuma contribuição e 10 muito efeito, a média ponderada das respostas foi 7,5.


As principais doenças e sintomas desenvolvidos por problemas no trabalho foram o estresse (76%), dor nas costas/tensão (75%), ansiedade (75%) e desânimo (65%). Entrevistas qualitativas, feitas com grupos de foco, revelaram cinco aspectos importantes do problema: há violência no trabalho, em seus aspectos simbólicos e concretos; faltam regras claras de promoção e preenchimento de vagas nas empresas, revelando ausências de coerência no mercado; o assédio e pressão dos chefes e superiores são constantes; os empregos não trazem realização pessoal, e as pessoas mantêm-se neles por falta de opção; e há angústia decorrente das mudanças tecnológicas e do futuro do trabalho.


Os problemas são reais e exigem respostas e soluções. Isso precisa envolver empresas – funcionários adoecidos não interessam a ninguém e comprometem resultados e produtividade no trabalho – e a sociedade como um todo. É questão que, no fundo, exige novas abordagens e cuidados, que não pode ficar esquecida ou latente.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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