Tomada de 3 pinos

Em meio à profunda crise econômica, materializada pelo baixo crescimento, o governo tem se preocupado com questões absolutamente secundárias

Por: Da Redação  -  18/06/19  -  10:43

Em meio à profunda crise econômica, materializada pelo baixo crescimento, abaixo de 1% ao ano, e por elevadas taxas de desemprego, o governo tem se preocupado com questões absolutamente secundárias. Deixando de lado a temática ideológica, que envolve ações no âmbito da educação, meio ambiente e relações exteriores, marcadas por decisões conservadoras no campo dos costumes e das visões de mundo, há atenção a assuntos que vão do fim do horário de verão a mudanças no Código Nacional de Trânsito, com a elevação da pontuação que pode causar a perda da carteira de habilitação de motoristas e o fim das multas pelo não uso das cadeirinhas para crianças no banco de trás dos veículos.


A ofensiva parece continuar, e o alvo agora é a tomada de três pinos, instituída em 2011. Anuncia-se que o governo prepara norma para revogar o uso compulsório desse padrão de tomada, chamada por assessores presidenciais, como “tomada do PT”. A medida tem encontrado, porém, resistências entre os técnicos: análise de impacto regulatório, realizada por servidores do Inmetro, foi desfavorável a mais uma substituição de tomadas e plugues no Brasil.


A presidente do órgão, Ângela Flores Furtado, assinou nota técnica que ratifica a segurança do padrão brasileiro, embora reconheça que pode ser viável a disponibilidade de outro padrão internacional de tomada. Na realidade, trata-se de tema complexo e controverso, já que existem 110 diferentes configurações adotadas no mundo. Fica evidente que o assunto deve ser tratado com cuidado, embora não se possa descartar a possibilidade de flexibilizar a adoção de outro padrão de tomada preferido pelos consumidores, de acordo com a melhor aderência aos plugues de seus equipamentos eletrônicos.


Alçar esse tema à agenda prioritária de governo é flagrante exagero. Ele deveria ser tratado na esfera dos técnicos e receber contribuições que possam aprimorar o padrão atualmente existente. Embora o secretário especial de Produtividade e Competitividade, Carlos Alexandre da Costa, tenha destacado que a substituição da tomada de três pinos representa medida com potencial impacto sobre a produtividade nacional, ressaltando que o padrão dificulta a entrada de equipamentos elétricos importados e aumenta os custos de adaptação, preocupa alçar o assunto como tema relevante no atual contexto nacional.


Em abril, o assessor internacional do presidente, Filipe Garcia, alinhado com o escritor Olavo de Carvalho, publicou em seu Twitter a defesa de algumas medidas de impacto. Entre elas estavam o fim da tomada de três pinos, das urnas eletrônicas “inauditáveis” e do acordo ortográfico. Definitivamente, o Brasil tem problemas muito mais sérios e urgentes: perder tempo com factoides desse tipo é um desserviço à Nação, e o governo deve dedicar sua atenção e energia para resolver graves problemas econômicos.


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