Solidariedade, o lado B da pandemia

De acordo com o Monitor de Doações Covid-19, a soma de contribuições já soma, em apenas três semanas de arrecadação, R$ 2,21 bilhões

Por: Da Redação  -  16/04/20  -  19:14

Há, no país, intensa mobilização de apoio às pessoas que sofrem com a pandemia de Covid-19. São inúmeras as iniciativas de pessoas que passaram a dedicar-se a confeccionar máscaras de proteção para profissionais de saúde, ou arrecadar alimentos, produtos de limpeza e higiene para doação aos sem renda. Essa rede de solidariedade tem se multiplicado, evidenciando a preocupação e o interesse de muitos, empenhados diretamente no enfrentamento da crise.


Isso é muito positivo. Costuma-se dizer que os brasileiros são muito sociáveis, relacionando-se com facilidade e estabelecendo laços de amizade, mas não teriam a mesma disposição quanto à solidariedade, que significa trabalho e dedicação em benefício daqueles que enfrentam dificuldades. As ações atuais, que aconteceram em tragédias recentes, como nos deslizamentos que atingiram Santos e Guarujá em fevereiro, desmentem tal afirmativa e confirmam que muita gente se dispõe, de modo voluntário e anônimo, a contribuir para a solução de graves problemas.


No plano das empresas, o movimento tem sido igualmente expressivo. De acordo com o Monitor de Doações Covid-19, a soma de contribuições já soma, em apenas três semanas de arrecadação, R$ 2,21 bilhões. Deste total, 94% vêm de grandes companhias e empresários, ficando o restante a cargo de doações de pessoas físicas em campanhas e do trabalho de artistas em shows na internet.


O número impressiona. A socióloga Maria Alice Setubal, que preside os conselhos da Gife (associação que reúne 170 fundações do Brasil e levantou R$ 1 bilhão em ações sociais de enfrentamento à emergência em março) e da Fundação Tide Setubal, manifestou sua surpresa diante do êxito alcançado, salientando que, em trinta anos de trabalho nessa área, nunca tinha visto nada semelhante.


O esforço deve prosseguir e ser ampliado. As contribuições privadas não substituirão ou eliminarão a decisiva ação do Governo Federal no socorro às famílias e empresas, mas podem contribuir para amenizar o drama de milhares de pessoas. Além disso, demonstra a consciência social e coletiva, que dá consistência à própria ideia de comunidade. 


O Banco Itaú anunciou a doação de R$ 1 bilhão para ações de combate ao coronavírus, e 72% das doações anunciadas até agora vêm do setor financeiro, que tem o dever e a obrigação de mobilizar-se nesse momento. Mas surpreende a participação individual: o fundo de doações Coronavírus levantou R$ 5 milhões em duas semanas, sendo R$ 1 milhão com 3 mil pessoas físicas.


A filantropia como forma de ajudar o próximo precisa crescer no Brasil. Ela representa apenas 0,2% do PIB nacional, enquanto nos Estados Unidos atinge 2% e no Reino Unido, 1,5%. A Covid-19 despertou esse movimento, que deve prosseguir, expandir e tornar-se permanente no País. 


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