Sergio Moro fora do governo

Saída do ministro da Justiça e Segurança Pública foi decidida após o presidente Jair Bolsonaro demitir o diretor-geral da PF

Por: Da Redação  -  25/04/20  -  12:05

A saída do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, foi decidida em poucas horas. De maneira surpreendente, o presidente Jair Bolsonaro resolveu demitir o diretor-geral da Polícia Federal, Mauricio Leite Valeixo, tendo comunicado o fato ao ministro na manhã da quinta-feira. Durante todo o dia houve articulações e manobras para tentar evitar a saída de Moro, envolvendo especialmente os ministros militares, mas em vão. O Diário Oficial de ontem publicou a exoneração de Valeixo, fato que precipitou o pedido de demissão de Sergio Moro.


Em entrevista coletiva, o ministro, em tom sereno, mas firme, fez críticas ao presidente. Acusou Bolsonaro de interferência política e que ele estaria ignorando o compromisso que assumiu de dar a ele carta branca para nomeações e indicações em sua pasta. Foi além e deixou claro que o presidente trocou o comando da PF para ter acesso a investigações e relatórios do órgão.
Declarou que não teria problemas em substituir Valeixo, mas que isso exigia razões e motivos, como falta grave ou insuficiência no desempenho da função, que nunca existiram. O ato da demissão em si foi contestado: Moro não teria assinado o decreto e em nenhum momento o diretor da PF pediu exoneração. Arrematou dizendo que "não tenho como persistir com o compromisso que assumi sem que tenha condições de preservar a autonomia da Polícia Federal para realizar seus trabalhos ou sendo forçado a realizar uma concordância com a interferência política na PF cujos resultados são imprevisíveis".


A demissão de Moro abre séria crise política. É diferente da exoneração do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que, apesar de grande apoio popular no trabalho que vinha desenvolvendo no combate à pandemia da covid-19, não integrava a primeira linha do governo. Todas as análises que foram feitas sobre as eleições de 2018 mostram que a vitória de Jair Bolsonaro se deu por ele ter representado, perante o eleitorado, o antipetismo, o combate à corrupção e o enfrentamento da violência.


Ora, Moro, que se destacou na Operação Lava-Jato e assumiu proeminência nacional, representava exatamente duas dessas bandeiras, e não por acaso foi, durante todo o atual governo, o ministro com maior aprovação junto ao eleitorado. Sua saída marca uma ruptura importante e emblemática. O mercado financeiro reagiu fortemente à sua saída, com o Ibovespa despencando (já começara a cair na véspera diante da probabilidade da demissão) e o dólar alcançado níveis recordes.


A demissão veio em momento delicado, em que o País enfrenta a pandemia do novo coronavírus, e as reações são fortes, mesmo entre setores que sempre apoiaram o presidente. Caberá a ele e sua equipe mais próxima contornarem essa nova crise, retomando o foco para as ações de saúde e a retomada do crescimento econômico.


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