Riscos no horizonte

A onda de manifestações e protestos em todo o mundo provocou clima de intranquilidade generalizada

Por: Da Redação  -  24/10/19  -  20:05

A onda de manifestações e protestos em todo o mundo provocou clima de intranquilidade generalizada. Não se trata de fenômeno isolado: ele acontece em vários continentes, em países de diferentes orientações políticas e condições econômicas. 


Em Hong Kong, manifestantes mascarados vêm desafiando, há meses, o poderoso governo da China, para garantir liberdades individuais no território. Na França, os coletes amarelos realizaram protestos violentos contra o governo do presidente Emmanuel Macron, em movimento identificado como espontâneo e apartidário, sem líderes claros, organizados livremente pelas redes sociais. Nos últimos dias, o Chile vive autêntica convulsão social, com saldo de 15 mortos e centenas de feridos, em ações que se originaram contra o aumento na tarifa do metrô de Santiago.


A movimentação acontece em países tão diversos como Equador, Líbano, Iraque, Rússia e Venezuela. A situação interna difere muito, e a América Latina surpreendeu-se como os protestos chilenos: eles aconteceram em um país que vem conseguindo manter taxas de crescimento destacadas e tem renda per capita bem acima da média do continente, visto até aqui como padrão de estabilidade política e equilíbrio nas instituições democráticas. 


Há, entretanto, alguns traços comuns em todos os protestos. A população, em suma, não está satisfeita com o quadro atual, em que se destacam desemprego, aumento de impostos e alta nos preços dos serviços públicos. As motivações não são apenas econômicas: existe clara exaustão do sistema político, que não goza da confiança das pessoas. O descontentamento se agrava com a percepção do aumento da corrupção nos níveis governamentais e a falta de respostas do Parlamento e muitas vezes do Poder Judiciário. 


É autêntica crise de confiança, de falta de perspectivas e ausência de líderes para responder à atual situação. O desespero é grande e o caminho adotado por muitos é a violência explícita nas ruas, com a negação da democracia e de seus valores, abrindo espaço para soluções populistas e autoritárias. 


Não há saídas fáceis para essa crise mundial, de esgotamento de valores e perspectivas. Problemas existem, e exigem soluções e respostas, que o atual modelo não consegue dar. No Brasil, apesar das tensões presente nos últimos anos, que começaram nas manifestações de 2013 e seguiram com o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o movimento dos caminhoneiros, o ambiente ainda é calmo. 


Mas é preciso atenção: a desigualdade econômica é gigantesca, a miséria avança, o desemprego continua muito alto. Há forte radicalização política, que divide a sociedade. Muitas revoltas começaram com gatilhos insignificantes e aleatórios, mas elas são, no final das contas, consequência de graves e profundos desequilíbrios sociais e econômicos. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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