Revés no liberalismo

Bolsonaro ainda não cravou se vai manter a responsabilidade fiscal ou se caiu na tentação populista de calibrar os preços

Por: Da Redação  -  23/02/21  -  09:00

Os desastrosos anúncios do presidente Jair Bolsonaro de troca do comando da Petrobras e talvez do Banco do Brasil, com alguma surpresa na área de energia, indicam o fim do liberalismo de Paulo Guedes no governo. Entretanto, Bolsonaro não cravou para onde pretende ir, o que é crucial - se vai manter a responsabilidade pelo lado do equilíbrio fiscal ou se caiu na tentação populista de calibrar os preços. Neste segundo caso, o impacto costuma ser rápido nos índices de popularidade pelo alívio imediato no bolso da população e no caixa das empresas. Depois a conta do represamento dos custos das estatais chega, com severas consequências na economia. O passado recente está recheado de exemplos trágicos e o principal deles é o do Governo Dilma, que realizou uma série de interferências nas tarifas e preços atrelados ao Estado, corrigindo-os por meio de tarifaço quando tudo deu errado. Desde então o País parou de crescer e as contas públicas não se recuperaram. O próprio silêncio de Guedes é revelador. Seu desgaste é claro e o sumiço do ministro prova que sua política para este governo perdeu importância.


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Com o recado dado pelo mercado, ontem, de quedas de dois dígitos na bolsa, é possível que hoje e nos próximos dias o Palácio do Planalto recue e insista no discurso da não interferência nas estatais e da continuidade da gestão liberal. Entretanto, o estrago está feito. Desde que Bolsonaro disse na quinta-feira que ia demitir o presidente da Petrobras, a empresa já perdeu 25% do seu valor de mercado, o equivalente a R$ 100 bilhões, quase uma Magazine Luiza inteira. Banco do Brasil, BR Distribuidora, CPFL e muitas outras companhias com alguma ligação com o Estado despencaram ontem entre 5% e 12%. Até bancos se desvalorizaram. Segundo analistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico, os ativos brasileiros perderam em média 15%. No câmbio o Banco Central despejou US$ 1 bilhão para evitar a disparada da moeda. Já o risco-país para contrato de cinco anos disparou 14% desde sexta-feira, refletindo o temor externo de deterioração das contas brasileira. No exterior o discurso é evitar muita exposição ao Brasil e, dependendo das próximas declarações de Bolsonaro, poderá haver saída de capitais.


A piada do mercado financeiro é que Bolsonaro “dilmou”. Na verdade ele deixou mais claro o mergulho no populismo para agradar fatias do eleitorado. No caso da Petrobras, a crise começou com a decisão do presidente de atender pedido dos caminhoneiros, um dos pilares do bolsonarismo, para segurar os preços dos combustíveis. O problema é mais amplo: atinge de motoristas do Uber às famílias pobres na hora de comprar gás de cozinha. Entretanto, tudo tem um custo e é nesta hora que um líder eleito pelo voto da maioria precisa decidir se vai buscar a sustentabilidade fiscal, que tem efeitos mais demorados, ou se age de forma pontual para obter resultados eleitorais. Ainda há tempo para o presidente dosar seu discurso e optar pela sensatez.


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