Representantividade negra

Na disputa por recursos do Estado, a representatividade negra é importante para estimular os investimentos sociais

Por: Da Redação  -  23/11/20  -  10:07

As ameaças à primeira vereadora negra eleita para a Câmara de Joinville (SC), Ana Lúcia Martins (PT), simbolizam o atraso e o reacionarismo às mudanças na representatividade que o último pleito levou para boa parte das cidades do País. O caso está sob investigação – pessoas não identificadas nas redes sociais dispararam mensagens de ódio sob codinome hitlerista e com a promessa de matá-la para dar a vaga a um suplente branco. Em meio a esse absurdo, o fato a comemorar é que os eleitores decidiram democratizar a distribuição das vagas nas câmaras, com a escolha de muitos candidatos negros. Na Baixada Santista, dos 134 vereadores na soma das nove cidades, 47 se declaravam negros entre os eleitos de 2016, número que agora subiu para 61 (o total regional é de 136 após duas vagas criadas em Praia Grande). O aumento de 29% é de extrema importância porque esses representantes terão condições de discutir economia, saúde, educação e segurança pública de forma compatível com a necessidade desses eleitores e não apenas por não negros que querem falar em nome do negro, conforme afirma o cientista político e presidente nacional da Frente Favela Brasil, Derson Maia. 


O resultado das últimas eleições é surpreendente se comparado com o pleito de 2018, marcado de forma positiva pela condenação da corrupção, mas, por outro lado, pelo conservadorismo extremista e contestações das pautas identitárias (LGBT, feminismo, meio ambiente, índios e questão racial). Embalando esse pacote todo estava a aversão à política, cunhada de “velha política”. Os vícios nessa área são nefastos para o País, mas a expressão também serve de cala-boca aos divergentes. Porém, o eleitorado corrigiu excessos e mandou recados aos representantes vitoriosos de 2018 de que há muitas demandas a serem discutidas de forma democrática. 


O racismo estrutural é um problema brasileiro, com uma imensa população negra desde cedo sujeita a escolas de menor qualidade, transporte público ineficiente, habitações precárias e em periferias empobrecidas e perigosas e com poucos serviços públicos. Há ainda a violência policial, que alimenta as estatísticas de mortes de negros. Entretanto, persiste o mito do esforço individual que supera dificuldades, por exemplo, dirigido às crianças pobres que deveriam trabalhar “como antigamente”. Porém, é fácil para quem tem boa estrutura social e filhos na escola defender para pobres uma infância árdua. Mas a única forma de superar as desvantagens no início da vida é a educação de qualidade e para isso é preciso definir prioridades, obviamente mais verba pública. Na disputa por recursos do Estado, a representatividade negra é importante para estimular os investimentos sociais. Parte da sociedade, espera-se que a minoria, pode rejeitar equiparações ou correções de injustiças, mas a construção de um país melhor depende de oportunidades abertas para todos. 


Na disputa por recursos do Estado, a representatividade negra é importante para estimular os investimentos sociais


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