Reencontro com a democracia

Nossas fronteiras, como a de outros países limítrofes, sentem os reflexos da diáspora venezuelana

Por: Da Redação  -  06/12/20  -  10:01

A Venezuela vai às urnas hoje, e, como sempre, sob a desconfiança da comunidade internacional. O pleito deste domingo é para a renovação da Assembleia Nacional, considerado o último reduto da oposição a Nicolás Maduro. São 277 cadeiras em jogo na Casa, parte dela ocupada por partidos não alinhados com o chavismo.


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A situação no país vizinho segue preocupante em termos humanitários. Por isso, uma boa condução do processo eleitoral – o ideal, lógico, não necessariamente que isso ocorrerá – seria um recomeço para a estabilização de sua ordem democrática. Isso não significa ceder aos apelos de entes oportunistas, de ambos os lados, mas o engendramento de uma pacificação institucional no país.


Até fontes internas que sempre apoiaram o Governo Maduro já dão sinais de saturação, numa clara divisão do bloco de esquerda que fez juras ao chamado Socialismo do Século 21, mantra do falecido presidente Hugo Chávez. Isso ficou evidente na manifestação do Partido Comunista Venezuelano e da Alternativa Popular Revolucionária, que denunciaram censura e cerceamento de suas candidaturas. 


Sabe-se que a Venezuela, dona de uma formidável reserva petrolífera, não consegue reerguer-se economicamente. Muito, em parte aos arrochos patrocinados pelos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump. A cúpula dirigente do país sul-americano deve ter ciência de que a escrita não será mudada a partir da posse do presidente eleito dos EUA, Joe Biden. Sanções econômicas e críticas públicas continuarão a embasar a relação entre os dois países. A única diferença, a princípio, será a retórica, notadamente intervencionista e bélica do presidente ora de saída da Casa Branca.


A continuar com sua linha autoritária, no contexto do que se entende por democracia, Maduro só terá a perder. E, claro, mais do que ele, a população venezuelana. Em meio à desconfiança generalizada, faria muito bem para a isenção do processo eleitoral que houvesse observadores neutros. E aqui, não é uma questão de ingerência externa nem de intromissão no direito à autodeterminação venezuelana. Trata-se de uma prática de prudência diplomática para dissipar desconfianças da comunidade internacional.


O Brasil que, ideologicamente, optou por seguir a cartilha trumpista precisa resgatar a tradição que construiu por décadas de suas relações exteriores. Ou seja, agir como um observador atento e colaborativo para que a estabilidade política retorne à nação vizinha. Nossas fronteiras, como a de outros países limítrofes, sentem os reflexos da diáspora venezuelana.
Isso não significa omitir-se, mas reafirmar a condição diplomática de propor, discutir alternativas, sem disparates ideológicos e coisas que o valham. A estabilidade venezuelana tem, sim, influência na região. Resta saber se a cúpula dirigente do país também está disposta a recuperar o sentido de democracia, com liberdades e sem aventuras, perigosas e desastrosas.


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