Quem paga a conta?

Passada a crise, como irão se comportar os governos: manter, e até ampliar, repasses e auxílios, ou cintos serão apertados, de modo a buscar reequilibrar as contas e retomar o equilíbrio fiscal?

Por: Da Redação  -  29/04/20  -  10:39

A crise desencadeada pela pandemia da covid-19 obrigou os governos a gastos emergenciais que irão provocar enormes déficits fiscais. Não se discute a necessidade e a urgência dessas medidas - trata-se de assegurar a sobrevivência de pessoas e empresas - mas já existe preocupação com o futuro. Passada a crise, como irão se comportar os governos: manter, e até ampliar, repasses e auxílios, ou cintos serão apertados, de modo a buscar reequilibrar as contas e retomar o equilíbrio fiscal em prazo não muito longo?


Há quem vislumbre no horizonte o fim da agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, cuja permanência no governo estaria ameaçada, diante dos anúncios de planos de investimentos em infraestrutura com recursos públicos, em claro movimento de aumento da presença do Estado na economia.


Economistas alertam que a atual política econômica pode ser alterada, com consequências profundas na percepção do risco dos agentes financeiros sobre o Brasil, limitando a reação das atividades e a geração de empregos. A atual crise política, com boa dose de incerteza sobre o futuro, aumenta ainda mais essas preocupações, dificultando respostas rápidas do País a seus desafios.


No fundo, há o risco do populismo econômico, com forte agenda de estímulos com intervenção estatal, que pode pôr em cheque a estabilidade fiscal do País por muito tempo. A alternativa a tal modelo está em um programa de investimentos públicos e privados inteligente e factível, com um Estado indutor e organizador, e de um setor privado que, sem desarticular-se, seja capaz de responder às propostas e encarar os desafios que lhes serão propostos.


O déficit não é insuperável. Basta notar que os Estados Unidos, na Segunda Guerra Mundial, foram obrigados a aumentar as despesas públicas, e seu déficit chegou ao pico de 30% do PIB em 1943, com a despesa pública tendo passado de 40% para 120% do PIB. Passada a Guerra, os EUA raramente tiveram superávits fiscais, mas a relação dívida-PIB foi se reduzindo até a crise financeira de 2008. A explicação, muito simples, está no crescimento da renda maior do que a dívida.


Este deve ser o caminho brasileiro: a dívida nacional estava, antes da crise, em 75% do PIB. Ela certamente vai cresce agora, mas pode ser contrabalançada pela recuperação da economia. Mesmo uma dívida alta se torna administrável se o crescimento da renda for maior que o serviço da dívida. Em contrapartida, se a economia encolher, com medidas fiscalistas extremas, a relação dívida-PIB irá aumentar de modo explosivo. 


Não há saída: gastar muito agora e, passado o furacão, com determinação e responsabilidade, promover ações e políticas de crescimento que envolvam o Estado e o setor privado, e garantir que a conta será paga sem impor sacrifícios insuportáveis a todos. 


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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